A reforma da previdência, tão discutida no/pelo Congresso Nacional brasileiro, comporta três análises, a meu ver, que estão interligadas, e que resumem bem todo o contexto atual.
A primeira, é que falta transparência, como na maioria das questões que envolvem a política no Brasil. De fato, a previdência nos moldes atuais está falida? Ou seja, na formatação em que se encontra, com as idades de aposentadorias estabelecidas até então, há (ou haverá em um futuro próximo) um passivo que não poderá ser pago, onde a arrecadação é menor que a despesa? Se a resposta for afirmativa, onde se encontram os números e as estatísticas? Se existe, quem os elaborou? São efetivamente reais?
Percebe-se que, com estas perguntas básicas, já se pode observar que não há transparência nos argumentos do governo, posto que seria simples comprovar a necessidade ou não de reforma. É claro que aqui caberia outro questionamento: Se a previdência tem um déficit, qual a causa? São desvios, má administração, ou efetivamente o modelo em vigor não é mais viável? Aqui, também, se a resposta estiver atrelada aos aspectos relacionados à má gestão, a reforma terá o condão apenas de jogar o problema para frente, permitindo-se que os desmandos administrativos continuem. Penso que, sem responder a estas perguntas simples, mas essenciais, não se pode sequer iniciar um debate sobre uma possível reforma.
A segunda análise que deve se feita, diz respeito ao fato de que no Congresso não há, de nenhuma das partes, deputados e senadores, qualquer interesse em tomar a melhor decisão para o país. O que menos importa, conforme tenho visto, é a aposentadoria ou a condição de vida do brasileiro em sua velhice. O que tem importado para os congressistas é própria política particular de cada um: a reeleição, as emendas parlamentares, os cargos partidários e pessoais. Nada mais importa. E abertamente, digladiam-se em busca de favores políticos em troca de apoio ou contrariedade da reforma. Basta observar, apenas como uma pequena demonstração do que afirmo, que a discussão atual é que haverá eleições no próximo ano e que a reforma não poderá mais ser votada (ou aprovada), porque poderia gerar insatisfação de uma parte do eleitorado. Ou seja, não interessa o mérito da reforma, se é necessária ou não. Isto é o que menos interessa!
Assim, chego à terceira análise: o egoísmo e o individualismo das pessoas! Quem já está inserido no sistema atual não aceita em hipótese alguma qualquer mudança nas regras. Que se danem os que não poderão se aposentar, que as gerações futuras encontrem outra forma de resolver o problema, que é delas, posto que o das atuais já se encontra (bem?) resolvido. Se a previdência está falida e vai quebrar, pouco importa! Se há uma clara discrepância entre os servidores públicos e privados, que têm a mesma contribuição, mas recebem seus proventos de forma diferente, o problema é de quem recebe pouco e não dos que recebem muito.
Alguns já subiram a escada, e já estão lá, (bem ou mal, não importa), outros estão nos degraus, e outros, querendo subir, estão a caminho. A questão é que talvez a escada precise ser derrubada e substituída por outra. Mas ninguém quer sair de sua zona de conforto, não importam as consequências!
É dessa forma que o problema da previdência continua, como se interminável fosse, como se não dependesse (a sua solução) apenas da boa vontade política e do interesse de todos coletivamente. É preciso compreender que a previdência é um patrimônio público, e como tal, necessita ser bem tratado, zelado, para que possa continuar a servir a todas as gerações, as de hoje e as de amanhã.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 09 de novembro