A ideologia pode ser conceituada, dentre tantos conceitos existentes, como sendo uma deformação da realidade, como algo (ideias) que travestem a realidade com uma falsa noção do real, daquilo que verdadeiramente é (ou deveria ser). A ideologia marxista, por exemplo, que é a que mais se destacou ao longo da história, pugnava pelo socialismo, em contraposição ao individualismo liberal.
Os ideólogos marxistas entendiam que o socialismo era a forma ideal de organização política, social e econômica, mas que terminou por sucumbir com a queda do Muro de Berlim (1989), quando houve a unificação das Alemanhas (Ocidental e Oriental) e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS. Mas a ideologia marxista se transformou e se transforma. Há quem a defenda tenazmente, mesmo que com uma abordagem pós-marxista, mas com uma base ainda fundada em preceitos fundantes daquela ideologia que terminou por dividir também o mundo político entre Direita e Esquerda.
E é nesse caminhar histórico que ainda se mantêm os partidos políticos que se auto intitulam de Esquerda ou de Direita, evidente que com os vários matizes adjetivantes, que ora abrandam, ora acentuam, seus respectivos significados. E não é incomum ouvir partidos políticos sendo caracterizados como de Centro Esquerda ou de Extrema Direita.
Especificamente no Brasil, a ideologia partidária restou acentuada no século passado e não poucas lutas foram deflagradas, tendo se chegado ao ponto até de se fundar uma Ditadura tendo como uma das justificativas a necessidade de se combater o avanço do Comunismo no país.
A questão, contudo, é que ao longo da história (pós-Constituição de 1988), os partidos políticos brasileiros, tanto de Esquerda quanto de Direita, cada um com seus próprios fundamentos, defendiam suas ideologias, as quais se revestiam de ideias e propostas que se contrapunham umas as outras, possibilitando que os cidadãos pudessem analisa-las, sopesa-las e, nas urnas, deliberassem por aquilo que melhor atendesse as suas expectativas. Mas, hoje, o que há? Que ideologias? Que partidos políticos? Efetivamente, nos mais de vinte partidos políticos existentes no
Brasil não se consegue enxergar ideias claras ou posições coerentes, tampouco afiliados que possuam pensamentos, ações ou discursos que se afinem com os fundamentos ideológicos do partido político de que são partes. E por que isso não há mais?
Os adeptos da ideologia marxista, como de qualquer outra ideologia, eram (são) pessoas que têm, normalmente, pensamentos e comportamentos que se alinham entre si. Possuem uma forma (ou um modo) de pensar que não distam uns dos outros. Estão todos com suas falas em uníssono. O ponto crucial é que seus objetivos coincidem e encaminham todos para um mesmo fim, aquele que entendem como o melhor para todos.
No Brasil, porém, os partidos políticos perderam suas identidades e se transformaram em depositários de votos e de poder, não de pessoas e de ideias. E com isso se instaurou no país um partidarismo individualista, onde os interesses pessoais são o mais importante, onde os ideais perderam espaço para os discursos falaciosos e retóricos, como instrumento de dissimulação dos seus reais desejos.
De fato, não há como fugir dessa triste realidade: os partidos políticos no Brasil estão vazios de significados e repletos de contradições e de interesses espúrios. Por isso a necessidade de uma reforma política profunda, uma reforma que resgate o ideário partidário, aquele que pugna por uma realidade social que, segundo uma convicção fundamentada, entenda a ideal, mesmo que utópica.