A pergunta que intitula o presente texto foi a que mais ouvi na última semana. Se eu fosse respondê-la com base em um debate ideológico, de esquerda ou de direita, de oposição pela oposição em si, chegaria à conclusão de que ele deveria sim renunciar, como também de que não, ele não deveria renunciar! Um paradoxo explicado pelo pensamento binário ocidental, onde sempre há duas respostas antagônicas para a realidade social: é o mal em oposição ao bem; o injusto ao justo; o errado ao certo, etc. A própria sociologia tem sido estudada com base em dois vieses: um positivista e outro crítico. E é por isso que eu posso encontrar respostas à pergunta (se Temer deve renunciar?) que serão antagônicas à medida que quem responde, assim o faz com base em um pensamento ideológico, mesmo que inconscientemente.
Mas é possível abstrair a ideologia do pensamento individual? Sim, mas desde que eu consiga abstrair do pensamento qualquer interesse (ideológico ou não) individual meu.
Penso, todavia, especialmente para o caso, que antes de responder se Temer deve ou não renunciar, deve-se perguntar o que é melhor para o país. Esta é a pergunta prévia que deve necessariamente anteceder à resposta ao principal questionamento. Mas quem pode dizer o que é melhor para o país? Melhor em que aspecto? Social, político ou econômico?
A renúncia a um direito é um ato unilateral da vontade. Assim, a avaliação sobre o que é melhor para o país deveria ser feita pelo próprio detentor do direito de estar Presidente da República, no caso Temer.
Nesse sentir, a decisão de Temer deve ser altruísta, abstraída de seu interesse pessoal enquanto político, como sempre devem ser as decisões tomadas por aqueles que deliberam em nome de outrem. E o que dizer dos que são constitucionalmente alcunhados de representantes do povo? Maiores razões ainda haveria para que suas decisões fossem tomadas nos interesses dos representados.
Se Temer decidir por renunciar, seja em que momento for, figurará aos olhos de parcela ideológica da sociedade como uma confissão da prática de crimes, para outra parcela da população, igualmente ideológica, poderá significar uma fraqueza. Outros pensamentos ideológicos poderão emergir, mas em todos haverá uma crítica à decisão.
A questão, assim, é que no debate ideológico há uma roupagem que esconde o real interesse que é impor seu pensamento em detrimento do pensamento do outro. No debate ideológico não há possibilidade de composição de interesses em prol de um bem comum, pois a ideologia se alimenta da própria luta entre os opostos.
Nesse diapasão, a renúncia para Temer é ruim, seja em que configuração política ela se dê.
Por isso que a análise que deverá fazer, para tomar a decisão pela renúncia ou não, possui o caráter altruísta que assinalei. Temer não pode pensar em si, nem em seu partido político, nem em qualquer outro pensamento ideológico se quer tomar a decisão acertada. Deve pensar, pois, sobre o que é melhor para o país! Mas é possível pensar abstraindo-se do pensamento ideológico?
Mas os que pedem a renúncia têm pensado no país ou em seus interesses individuais? E os que defendem que Temer permaneça no poder também não têm pensado apenas em si mesmos? Eis aí o erro de todos, considerando que, como já disse, o que deve ser pensado é sobre o que é o melhor para o Brasil, sem ideologias ou partidarismos.
Confesso não ter visto qualquer análise sobre a repercussão socioeconômica de uma eventual renúncia de Temer. Este, em realidade, deveria ser o debate prévio a ser realizado. Pedir a renúncia de Temer ou pugnar pela sua manutenção no Poder pode significar um tiro no pé, já que não há respostas sobre as consequências desse ato de renúncia.
Foto: EVARISTO SA / AFP