Em 19 de abril de 2011, há mais de dez anos, pois, escrevi um pequeno texto contando uma experiência que fiz com meus filhos: havia trocado o tradicional ovo de páscoa por uma visita a uma livraria e compra de um livro. Naquela oportunidade, narrei que a ideia de presentear as pessoas com ovos de páscoa de chocolate remontava ao início do século XIX e que, ancorada pela tradição religiosa cristã, transformou-se em um negócio lucrativo.

Hoje, relendo o referido artigo, vi que nada havia mudado de lá para cá, salvo o preço dos ovos de páscoa, que se tornaram objeto de desejo e de consumo apenas para os mais afortunados. A compra do ovo de páscoa continua a ser uma obrigação imposta à sociedade de consumo e que, alicerçada na tradição irreflexiva, especialmente para as crianças que recebem o presente, não passa de um simples ato, uma obrigação dos pais, avós etc.

Disse, no outro texto de dez anos atrás, que era uma pena que fosse assim. E pontuei mais: “Após uma reflexão mais apurada concluímos que as pessoas não pensam, não refletem, não questionam a si mesmas sobre os seus próprios atos. Deixam a vida levá-las para qualquer lugar, manipuladas como marionetes. Hoje, as crianças, especialmente das classes sociais mais economicamente favorecidas, ganham tantos ovos de páscoa que podem até acumular estoque para o ano seguinte. Não há valor nem sentimental e tampouco religioso (e não sejamos hipócritas), mas puramente de deleite pelo prazer sensorial e gustativo do chocolate, quando não somente do brinquedinho que vem dentro do ovo, ficando tudo o mais em segundo ou terceiro plano, quando não em plano algum. E se empanturram de chocolate e nenhuma reflexão é feita.

Nada contra a sociedade de consumo, muito menos contra o capitalismo, até porque geram empregos, fazem a riqueza circular e a economia se desenvolver. Mas uma visita à livraria e a compra de um livro têm um “poder” muito maior do que a simples entrega de um chocolate, sem qualquer envolvimento de quem o recebe, nem de quem o dá, sem qualquer reflexão que possa suscitar o aprendizado e o crescimento das crianças.

Na vivência que relatei no texto em referência disse que iria substituir o ovo de páscoa “por mais uma visita a uma livraria, das tantas que já fazemos, para que escolhessem um livro. E como foi legal. Compartilhamos aquele momento da escolha do livro, folheamos tantos, lemos algumas estórias até que finalmente escolhessem cada um o seu livro. (…) Mais uma oportunidade para ensinar sob qualquer ângulo que se queira: natureza, cultura, amizade etc.

O momento posterior ainda gerou outros aspectos importantes, como o de que o livro não precisa ter um dono único, pois o conhecimento contido nele pode e deve ser compartilhado por todos. Assim, o livro não precisa ser só meu, pode ser ‘de nós dois, três, quatro etc.’, e também por isso devemos zelar por ele, pois outros poderão também ter aquela mesma oportunidade de aprender, de conhecer, enfim! Após a leitura, já no outro dia, pude também falar sobre o que foi lido, sobre a mensagem contida no texto, e sobre o momento divertido que tivemos.”

Dez anos depois, volto àquela reflexão, e meus filhos já crescidos, ainda lembram daquele momento, e talvez não recordem do momento em que foram presenteados com algum ovo de páscoa. Recordam dos valores que buscamos passar para eles todos os dias, os mesmos valores contidos nos livros que lemos, e recordam das reflexões sobre conceitos importantes para a formação moral e ética de cidadãos e de pessoas honradas que devemos buscar sempre ser. Que tal levarmos nossos filhos mais vezes às livrarias, lermos livros juntos, falarmos sobre conceitos essenciais e virtudes? Na páscoa, troque o ovo pela experiência de visitar a livraria, comprar um livro junto com seus filhos e incentivá-los à leitura. Eles vão lhe agradecer amanhã!