Ao deparar-me com a foto de um índio com um arco e flecha apontando para um policial, que por sua vez lhe ameaçava com um revólver em punho, não fosse a imagem representar uma situação real ocorrida em Brasília–DF, nesta semana, em pleno século XXI, eu pensaria que estava vendo a imagem de um filme do velho oeste americano. Na época, estes filmes simbolizavam, dentre outros aspectos, a disputa pelos territórios indígenas no século XVIII. Aqui no Brasil, no século XXI, os índios protestam contra uma proposta de emenda à Constituição que trata da demarcação de terras.
A imagem daquele policial apontando uma arma de fogo altamente letal para o índio representa apenas a incapacidade do Estado de resolver os problemas do país, mesmo os mais simples. De fato, um país atravessado por uma grave crise econômica, com um elevadíssimo índice de desemprego, com uma saúde cada vez mais precária e uma violência abominável, não deveria mais ter que se ocupar com o problema indígena. Quando o europeu português chegou ao Brasil, em 1500, já encontrou os povos indígenas, com suas terras e suas culturas. De lá para cá já se vão mais de cinco séculos…
Aquela foto, mais do que dos filmes do velho oeste, me fez lembrar o mito grego da Caixa de Pandora, história contada por Hesíodo (século VIII a.C) e que trata da criação da primeira mulher e da representação da chegada das tragédias humanas à Terra.
É que antes de enviá-la, Zeus entregou-lhe uma caixa, recomendando que ela jamais fosse aberta, pois dentro dela os deuses inseriram inúmeras mazelas humanas, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente, as quais, uma vez aberta, se espalhariam e triam o condão de causar a desgraça dos homens. Dentro da Caixa de Pandora, todavia, havia um dom, escondido no fundo: a esperança.
A Caixa de Pandora foi aberta, como se sabe, e assim todos os males no mundo foram liberados! Mas a Caixa foi fechada, restando apenas a esperança, que não conseguiu escapar, e é por isso que ela (esperança) sempre está lá, escondida no íntimo de cada um dos homens, como a última que remanesce, seja qual for a situação, seja qual for a desgraça que ocorra!
É que tenho esperança de que tudo se resolverá um dia, tanto para a sociedade em geral, quanto para os índios em particular, mas receio que este dia ainda está distante, pois as mazelas são muitas e a inoperância do Estado é flagrante.
Não adianta apenas a esperança, pois esta sem ação é como o fruto que se quer colher sem ter havido a semeadura. E no Brasil nada se semeia, mas tudo se quer colher. A questão, porém, é que assim só se pode colher ervas daninhas, pois assim como os males liberados pela Caixa de Pandora, estas se espalham livremente e se reproduzem indiscriminadamente, sempre que não há o necessário zelo e cuidado com o fértil campo.