“Há mortos que estão vivos, e há vivos que estão mortos.”

Assis nasceu em 9 de Setembro de 1961, no Santo Antônio, um povoado a 26 kms da cidade de Oeiras. Veio para Oeiras, para estudar, aos 9 anos de idade, ficou na casa da nossa avó paterna: madrinha Joana (Em memória). Veio na frente da nossa família, que só viria para Oeiras, no ano seguinte. Eu nasci 3 anos depois dele, por isso me apeguei a ele, como se fosse meu segundo pai. (Estou escrevendo estas memórias com os olhos cheios de lágrimas, não pela dor da saudade melancólica, mas pelo sentimento da saudade nostálgica, da saudade boa.)

Era, desde minha primeira infância, minha referência. Andávamos sempre juntos.
Tenho lembranças remotas de nós dois, na Seca de 70, arrancando macambiras, para assar e dar aos porcos, para não morrerem de fome, ou procurando alguma cabra extraviada, encontrada depois, entalada em alguma loca de serra. Noutras lembranças, tomando banho em água doce de riacho, junto com nosso pai, Antônio Sobreira (Em memória), depois do duro trabalho de roça, ou caminhando em alguma vereda entre matos. Um dia, eu encontrei num atalho, uma lagarta de fogo, e perguntei a ele que bicho bonito era aquele. Ele me disse: “Larga isso, é uma lagarta que queima.”
Também foi ele quem me ensinou o ‘Dever de casa’, em minha primeira série, quando comecei a estudar.

E era quem ia à minha escola, tirar satisfação, quando algum menino grande batia em mim. Quando concluí o primeiro grau, ele já estava em Teresina, de novo veio na frente, para estudar no Colégio agrícola. Mandou uma Bíblia para mim, com uma dedicatória, pedindo que eu nunca me esquecesse do livro de cabeceira, a Bíblia Sagrada.

Eu não me esqueci, Assis. Dizia também que sentia orgulho de mim, pela minha dedicação aos estudos, e que me traria para estudar em Teresina, e cumpriu o prometido. Trouxe-me pra Teresina, e patrocinou meus estudos até eu passar no vestibular, para o curso de medicina da UFPI, em 1984.

Foi ele também quem trouxe depois os outros irmãos. Contando com ele, somos 8, e levou todos a se formarem. Era um socialista, e começou a botar suas ideias em prática, dentro de nossa família. Nos formamos, um irmão ajudando o outro.

Ajudou muita gente, no Piauí inteiro, e lutou incansavelmente por justiça social. Sonhava com um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, e tinha a pressa de quem só quer saber do que pode dar certo, porque sabe que não tem tempo a perder. Viver urgia, como se soubesse que não envelheceria. O tempo não passa igual pra todo mundo, e seus 58 anos vividos intensamente, significaram mais do que a velhice daqueles que passaram pela vida em brancas nuvens, e em plácido repouso adormeceram. Sabia que teria a eternidade para descansar.

Era uma virtuose, papai o chamava de ‘a estrela da família’, e de gênio forte e determinado, ficava irascível, diante de injustiças e da opressão do opressor, talvez por isso, seu coração não aguentou estes tempos sombrios, em que a roda grande está passando por dentro da pequena, e o Brasil está de cabeça pra baixo.

Faleceu de infarto fulminante, no dia 5 de Julho de 2020, em Oeiras, cidade que muito amava, e à qual se doou, e fez muita coisa, assim como pelo estado inteiro, e seguramente, pela família e pela população, aquela parte viva, que sabe ter gratidão, será sempre lembrado com amor, e permanecerá vivo em nossos corações.

*Por João Carvalho, médico e escritor. Irmão de Assis Carvalho.

 

 

Suprema Corte dos EUA proíbe chamadas robotizadas a celulares

Por seis votos a 3, a Suprema Corte dos EUA rejeitou um pedido de organizações políticas e pesquisadores de opinião pública para revogar uma lei que proíbe chamadas robotizadas (ou por discagem de computador) a telefones celulares.

As organizações alegaram que a lei é inconstitucional, porque discrimina com base no conteúdo da chamada. Isso porque, em 2015, o Congresso abriu uma exceção na lei, que permitia ao governo federal fazer chamadas robotizadas para cobrar dívidas de cidadãos e empresas, que chegam ao valor total de US$ 4,2 trilhões de dólares.

Para resolver esse problema constitucional, a maioria dos ministros da corte decidiu que essa exceção deve ser eliminada. O ministro Brett Kavanaugh escreveu no voto da maioria que mesmo que um dispositivo da lei seja inconstitucional, não é preciso revogar toda a lei. Basta revogar o dispositivo.

As organizações políticas, incluindo de levantamento de doações para campanhas eleitorais, e pesquisadores de opinião pública queriam revogar a lei porque este é um ano de eleições para presidente, dois terços dos senadores e todos os deputados federais, bem como de cargos eletivos estaduais. É mais fácil mandar uma mensagem pré-gravada para todo mundo.

Mas se a Suprema Corte revogasse a lei, isso iria abrir a porteira para chamadas robotizadas de todos os tipos de organizações, incluindo de telemarketing e de empresas de cobrança.

Mas essa é uma lei pouco respeitada de qualquer forma. Só em 2019, o governo federal recebeu 3,7 milhões de reclamações contra chamadas robotizadas — fora as que foram apresentadas aos governos estaduais.

“Os americanos discordam apaixonadamente sobre muitas coisas. Mas são largamente unidos em seu desdém por chamadas robotizadas”, escreveu Kaanaugh no voto da maioria.

“Por isso, a Lei de Proteção ao Consumidor de Telefone de 1991, que pretendeu botar um fim nesse aborrecimento das chamadas robotizadas, é provavelmente a lei mais popular do país. Manter a lei é até uma questão de bom senso”, escreveu o ministro.

No voto da minoria, o ministro Neil Gorsuch escreveu que a lei deveria ser declarada inconstitucional, porque viola a liberdade de expressão. Para ele, a lei não é necessária porque as pessoas podem, em seus próprios celulares, bloquear chamadas não desejadas.

 

***** Texto publicado originalmente no Jornal O Dia no dia 09 de junho de 2020