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O Legislativo que não sabe legislar, a culpa in eligendo e a importância do voto!

Segundo o artigo 1º da Constituição Federal de 1988, o Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito, tendo o artigo 2º estabelecido que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. É certo, porém, que a independência desses poderes não é absoluta, encontrando limites estabelecidos na própria Constituição, sendo permitido fazer apenas aquilo que ela (Constituição) determinar. Ao Poder Legislativo cabe, dentre outras funções, fazer as Leis que devem reger a vida em sociedade, estabelecendo condutas, direitos e deveres, mas respeitando sempre os limites e determinações da Constituição Federal. Assim, nesse sistema de democracia constitucional, ao Supremo Tribunal Federal – STF cabe precipuamente a guarda da Constituição, devendo zelar para que as eventuais Leis que venham a ser criadas não a contrariem.

Em levantamento realizado pelo Anuário da Justiça sobre o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) pelo STF em 2017, de cada dez leis analisadas, oito delas foram declaradas inconstitucionais, parcial ou totalmente. Os vícios que culminaram com as inconstitucionalidades são principalmente os que dizem respeito à forma com que foram editadas, mas muitas também têm relação com o conteúdo. Em fevereiro de 2018, de acordo com dados do STF, havia 2.040 ADIs em tramitação na corte, pasme!

É preciso observar que o STF não age de ofício, ou seja, só declara a inconstitucionalidade de uma lei se for provocado, na forma do que também estabelece a Constituição Federal, sendo possível, pois, que existam inúmeras inconstitucionalidades não declaradas pelo país, considerando que há ainda as assembleias legislativas estaduais e câmaras municipais fazendo leis todos os dias, isso sem contar a competência legislativa no âmbito dos governadores de estado e de prefeitos municipais.

A reflexão que fazemos, aqui, se relaciona com a habilidade dos legisladores brasileiros de fazerem leis, afinal como se conceber uma estatística negativa tão elevada no âmbito do Poder Legislativo, quando cada senador, deputado federal, estadual ou vereador conta em seus gabinetes, uns mais outros menos, com uma plêiade de assessores e com toda uma estrutura das casas legislativas, formadas por profissionais das mais diversas áreas, prontos para emitirem pareceres, orientações técnicas, enfim.

Se esses legisladores fossem empregados de uma empresa privada por certo muitos já estariam desempregados, seja por produzirem pouco, seja por produzirem mal ou equivocadamente, como por ocasião da elaboração de leis inconstitucionais. A questão, todavia, é que enquanto empregados do povo, foram escolhidos através das urnas, não tendo como demiti-los por incompetência, tal qual ocorreria se se tratasse de algum empregado qualquer.

Ainda trazendo a empresa privada como analogia, se um empregado no exercício de sua atividade causar dano a terceiro, a empresa será responsável pela indenização, não interessando a qualidade do empregado contratado, considerando ser problema da empresa se contratou mal. É a chamada culpa in eligendo ou simplesmente culpa pela escolha. À empresa fica a possibilidade de imediatamente demitir o empregado que não agiu bem!

Quando o povo escolhe mal seus governantes e estes agem mal, legislando sem observar sequer as regras de legislação, a culpa in eligendo atua perfeitamente também, e o povo arca com os prejuízos que são causados pelo legislador, mas diferentemente do que ocorre na iniciativa privada, o povo não tem como demitir o mau legislador imediatamente. É que a demissão só poderá ocorrer nas urnas, de quatro em quatro anos.

Não se pode esquecer que uma lei mal feita pode trazer sérios e graves prejuízos, inclusive e especialmente prejuízos sociais. Leis podem retirar direitos conquistados, usurpar competências, fechar escolas ou hospitais. São variadas as consequências, sendo essencial que o povo as compreenda efetivamente.

Defendemos que o povo tenha o direito, tal qual ocorre na iniciativa privada, de demitir aquele político que uma vez eleito não corresponda às expectativas. Seria importante fossem fixadas metas aos eleitos, fossem analisadas as propostas das campanhas e cobradas o cumprimento delas.

Eleger não pode significar um cheque em branco, uma procuração com poderes absolutos, muito menos a impossibilidade de revoga-la tão logo seja preciso.  Da mesma forma as urnas não podem ser um escudo de proteção, um colete à prova de tudo, inclusive em face do povo, que em verdade é (deveria ser) o verdadeiro dono do Poder, afinal é a própria Constituição Federal que estabelece que todo o poder emana do povo.

Nesse diapasão, o povo deve compreender que ao escolher legisladores ruins está assumindo uma responsabilidade muito grande, da mesma forma que uma empresa que contrata um empregado negligente ou incompetente, com a diferença de que o empregado pode ser demitido a qualquer tempo.

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A greve dos caminhoneiros é apenas mais uma gota no copo chamado “condução da política no Brasil”

Engana-se quem pensa que a situação vivida nos últimos dias pelos brasileiros decorre da greve dos caminhoneiros. Pensar assim é fazer uma análise muito estreita da situação, é enxergar apenas um dos aspectos do verdadeiro problema, que em verdade é macro, indo muito além da revolta de uma classe de trabalhadores. Em verdade, a greve dos caminhoneiros representa uma das gotas que se somou a tantas outras já existentes no copo chamado “condução da política no Brasil”.
Efetivamente, os erros cometidos pelos que estão no comando político do país ao longo deste século, que não chegou sequer ainda ao seu primeiro quarto, já comprometem metade dele, ou seja, nem nos trinta anos seguintes se conseguirá resolver os problemas que foram criados por uma administração pública inescrupulosa, sem ética e sem espírito público. Ao contrário, os políticos no poder, em sua maioria, são individualistas e estão preocupados unicamente com o próprio bem estar. Ouso afirmar, mesmo sem um estudo ou uma base estatística aprofundada, mas tamanho o abismo social existente, que os direitos sociais de algumas gerações já estão comprometidos,pois não terão como ser atendidos, já que não haverá recursos financeiros disponíveis para investimentos nessa área, que historicamente sempre é a mais sacrificada. Neste caso, os índices comprovam sobejamente esta última afirmação, bem como a própria realidade caótica estampada na educação, na saúde e na segurança, enfim.
A greve dos caminhoneiros, todavia, teve o condão de mostrar ao Brasil a imensa interligação que há entre todos os setores que compõe a tessitura social de um país, mas penso que três foram os principais aspectosa se destacar.O primeiro foi o de mostrar à sociedade a sua própria força, a importância de suas profissões, seja qual for, e a dependência que se tem uns dos outros.O segundo, mas não menos importante, foi mostrar também como um governo pode ser questionado sem violência, sem vandalismos e organizadamente, enquanto o terceiro aspecto foi o de dizer ao governo que esse modelo político está ultrapassado e precisa ser urgentemente modificado. Talvez esta última seja a maior lição.
A reclamação contra o preço do combustível foi apenas a faísca que se utilizou para acender o estopim que a cada dia crescia mais e mais, e ainda cresce. Os governantes não podem mais se sustentar encastelados em seus gabinetes, refestelando-se com a coisa pública, como se vivesse ainda na Idade Média reinando em algum Estado absolutista, afinal o parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 estabelece expressamente que “Todo o poder emana do povo…”.
A greve dos caminhoneiros, à medida que o estopim avança, vai tocando nas demais gotas e as despertando da letargia que até certo ponto é natural na cultura do povo brasileiro eesse movimento poderá ser a pedra de toque capaz de fazer gerar uma energia cinética com consequências muito mais graves do que as que até então foram provocadas. A conscientização do poder do povo pelo povo, tal qual como previsto constitucionalmente, pode ser um marco muito mais importante que a existência da própria Constituição em si.
Disse que até a metade desse século os problemas sociais do Brasil não estarão resolvidos, mas faço uma ressalva, abro uma exceção, ao tempo que faço mais um alerta. Um trabalho sério, voltado diretamente para a educação, para o ensino de qualidade, integral, que preze pela ética, pelo culto aos valores morais e levados, pelo civismo, pelo amor à pátria e afeto ao próximo, é a única forma de desviar a rota do abismo iminente e de se salvar a segunda metade do século. Dito a exceção, faço o alerta: se esse trabalho não for iniciado o quanto antes, o tempo não perdoará e para cada dia perdido hoje se terá fatalmente um dia perdido no amanhã.
Texto publicado originalmente na edição do dia 31 de maio de 2018 do Jornal O Dia.
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As redes sociais, a faculdade de pensar e a propagação do bem pelo bem mesmo

Muitas são as críticas feitas às redes sociais, em especial à sua à má utilização. Digo assim porque é uma realidade palpável que as redes sociais têm sido um veículo de propagação de notícias falaciosas e de pensamentos os mais esdrúxulos, sem falar na exaltação de deficiências como se fossem verdadeiras virtudes, tais como a vaidade, a cobiça, o egoísmo e a falsa humildade, dentre tantas outras, e isto não pode ser confundido com liberdade de expressão, até porque não foram poucas as pessoas já vitimadas pelas redes sociais, inclusive penalizadas com a perda da própria vida, fruto de acusações injustas, inverídicas e fantasiosas, para dizer o mínimo.
Todavia, devo ressaltar que o problema não está nas redes sociais, mas sim no uso que as pessoas fazem delas. Efetivamente, enquanto tecnologia a serviço das pessoas, as redes sociais têm hoje (ou deveriam ter) um importante papel a cumprir, afinal são um veículo de comunicação global extremamente rápido e eficaz.
Mas o que leva uma pessoa a difundir falsas ideias, preconceitos e vilipêndios? Penso que o primeiro aspecto é a ignorância, a falta de conhecimento do mal que pode causar ao semelhante e a si próprio; o segundo é a negligência por não verificar a veracidade das informações que estão sendo divulgadas; e o terceiro aspecto é própria irresponsabilidade de quem abandonou a dádiva da faculdade de pensar, recebida do Criador inclusive como importante fator de distinção do homem em relação às demais espécies existentes.
Considero o terceiro aspecto apontado como o mais grave, pois a faculdade de pensar é a principal das demais faculdades da inteligência, sendo através dela que o homem cria os próprios pensamentos e exerce juízo de valor sobre as coisas e os fatos. Abandonar essa faculdade é o mesmo que negar a própria condição de ser humano.
O homem que não pensa encomenda as rédeas da condução de sua vida a terceiros, sendo isto o que ocorre com aqueles que simplesmente repassam notícias veiculadas pelas redes sociais, sem fazer qualquer análise sobre a verossimilhança delas, muitas vezes sem sequer compreenderem o que efetivamente estão repassando.
É uma pena que cada vez com maior frequência mensagens inescrupulosas sejam divulgadas, sendo que hoje esses tipos de mensagens já superam àquelas que efetivamente dizem algo verdadeiro. É ainda triste ver um instrumento tão importante e necessário, em especial nesses tempos modernos, ser utilizado de forma tão incongruente com a natureza humana, desvirtuando a sua própria utilidade e colocando em risco a própria solidariedade entre os homens.
As redes sociais deveriam ser utilizadas como meio de difusão do conhecimento, como instrumento de intercâmbio de opiniões e de ideias, sempre com o objetivo de se construir algo de bem e de valor para a vida em sociedade. Isso mesmo, para construir, jamais para destruir, como se tem visto às escâncaras.
A utilização positiva das redes sociais deveria ser um dever de cada um e de todos, mas isto só ocorrerá se cada um, individualmente, se utilizar das próprias prerrogativas humanas e começar a exercitar a função de pensar, estabelecendo filtros, eliminando os abusos, e propagando o bem pelo bem mesmo.
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O papel do escravo político em uma ópera bufa à brasileira

As eleições para o Governo do Estado se avizinham e até o presente momento, menos de quatro meses para o pleito, não se viu nenhum debate de ideias e sugestões no tangente aos gravíssimos problemas sociais existentes, como os atinentes à segurança, saúde e educação. Isto é típico de um Estado que ainda não se modernizou. Um Estado de terceiro mundo que, em verdade, se encontra à beira do caos, invadido pela falência moral e onde os interesses particulares-individuais são mais importantes que os da coletividade. É o individualismo de aldeia que tenho já retratado há algum tempo.
É triste ter que presenciar, à margem das discussões sobre possíveis soluções para extração do Estado da miséria, negociatas e trocas espúrias de apoio político, de cargos e de votos sendo de realizadas de forma “normal”, numa expressa declaração de que o povo ainda vota no cabresto, como verdadeiro escravo político.
Em definitivo, o atual modelo político não mais serve (se é que serviu algum dia) como extrato fiel de uma Democracia, onde todo o poder deveria emanar do povo, já que previsto em caracteres indeléveis na Constituição Federal. A reforma política que nunca existiu precisa ser concretizada efetivamente, pensando-se não nos interesses dos reformistas, mas nos da sociedade.
Como escolher representantes sem que haja sequer um debate prévio e concreto, onde as ideias e propostas sejam analisadas em sua plenitude, não só como retórica ultrapassada? Impossível se escolher representantes sem vislumbrar no mínimo uma plausibilidade em suas proposições.
Mas nada disso será feito, infelizmente! Após se agasalharem todos os políticos em seus pessoais interesses, as mesmas falaciosas propostas genéricas serão ouvidas, numa completa encenação hollywoodiana, para se fingir a existência de uma Democracia plena em um Estado digno de pena!
Mas aos escravos não se dá educação, afinal não precisam pensar, tampouco falar, pois não serão ouvidos. Os escravos políticos se calam, cumprem um papel de aparente protagonismo, mas não passam de coadjuvantes, servindo muitas vezes apenas para compor o cenário onde brilham os verdadeiros atores, que ao mesmo tempo são os diretores desse musical que, não fosse trágico, seria uma verdadeira ópera bufa à brasileira.

 

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As vaidades, o poder, a falácia e o (verdadeiro) lugar a Democracia

Um dia para entrar para a história do país. A corte máxima da justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal – STF, deverá ter decidido sobre uma questão crucial: a prisão de réus condenados em segunda instância fere ou não o estabelecido pela Constituição Federal de 1988, que prevê expressamente que ninguém será considerado culpado senão após o trânsito em julgado da decisão. Ocorre o trânsito em julgado de uma decisão quando dela não cabe mais recurso algum, ou seja, quando não houver mais como se apresentar qualquer recurso que seja. A decisão final da justiça está dada, pois! É o que diz a Constituição, mas Direito é interpretação, é hermenêutica para utilizar uma palavra de maior expressividade.

Assim, o STF, há algum tempo atrás interpretou, com base em princípios de hermenêutica e ainda no direito alienígena, que a presunção de inocência, erigido a princípio constitucional fundamental, se finda com a decisão em segunda instância, relativizando o trânsito em julgado. Desse modo, o trânsito em julgado deve ocorrer quando findam as instâncias que discutem os fatos e não quando findam as questões meramente processuais ou procedimentais, já que apenas estas questões é que poderão(riam) ser levadas às instâncias superiores. Pura falácia, já que as instâncias superiores apreciam fatos todos os dias (quando querem, é claro).

Nesse sentir, o Supremo trouxe para si a responsabilidade por determinar que qualquer que seja o condenado criminal em 2ª instância, deverá este iniciar o cumprimento de sua pena, mesmo ainda na pendência de recursos às instâncias superiores.

Não atinou, todavia, o STF, que em tão pouco tempo teria que (re)examinar esta questão, e isto após muitos condenados já estarem cumprindo pena de reclusão por conta daquele hermenêutico posicionamento. E o que é pior, o Supremo é chamado a decidir novamente com um réu que é nada mais, nada menos, que um ex-Presidente da República, alguém que foi, e talvez ainda seja, a maior liderança popular que este país já viu! O Supremo chamou para si um protagonismo que não deveria existir, enquanto partícipe de um modelo de democracia que preconiza a independência harmônica entre os Poderes.

Mas, o mais grave: O Supremo dividiu o país e as consequências da (nova) decisão ninguém poderá prever, mesmo sabendo que o Brasil é um país de um povo pouco ativo, pouco crítico, e muito mais voltado à acomodação e subserviência. Porém, se se pesquisar a história, facilmente se observará que os seus grandes momentos, sejam trágicos ou não, ocorreram em decorrência de um motivo pontual, isolado, como um pavio de uma vela que se acende pelo crepitar de uma distante fogueira.

O Supremo trouxe ainda para si os males do Legislativo: uma divisão política e ideológica que se escancara a cada nova sessão plenária. Os elementos da idiossincrasia jurídica, da fundamentação constitucional, da razoabilidade e do bom senso, são todos relegados a segundo plano e se submetem ao poder, às vaidades e a outras coisas mais…

Não irei adentar ao mérito, mesmo que este seja o desejo dos que me leem, perdoem-me! Já expressei minha opinião em outros artigos e não é aqui o momento de explorar nenhum pensamento de discórdia. Ao contrário, é preciso que frente à grave situação política, social e econômica pela qual passa o país, todos os brasileiros se unam, que coloquem acima de suas vontades o interesse coletivo, que reflitam sobre o que é mais importante para a sociedade, para a vida.

A Democracia, enquanto modelo ideal, pelo menos até aqui conhecido, deve prevalecer sempre, mas não se pode deturpa-la, não se pode abandoná-la, deixa-la relegada a uma situação de inferioridade, como se não importasse, como se fosse uma mera falácia. Ah! Falácia.

Não sei qual será a decisão do Supremo, até porque escrevo antes dela ocorrer, e assim o faço porque quero trazer uma reflexão apartidária, longe das ideologias e dos interesses pessoais e individuais, mas sei que, independente do resultado, o Poder Judiciário sairá perdendo. A Democracia sairá perdendo, assim como a sociedade, não importa o resultado.

Que sirva de exemplo! E a história serve para isso também. Para que as gerações vindouras aprendam com os erros e com os acertos daquilo que foi feito e vivido pelas passadas. O Supremo erra feio agora, qualquer que seja a decisão que tenha tomado sobre o caso em espeque. É como se tivesse se juntado aos comuns, como se o Direito fosse algo simples e retórico, como se o Direito fizesse parte de uma política que no Brasil se tornou espúria e odienta. Em verdade, a Suprema Corte brasileira perde a oportunidade de ser protagonista, sem necessidade de ter que sê-lo. E isto é algo para os grandes! Que pena que o Poder Judiciário tenha se apequenado tanto nesse episódio.

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O julgamento do ex-presidente Lula e o começo de uma nova história do Brasil

Naquele que deve ser considerado o julgamento do Século (pelo menos até agora) para o Brasil, forças têm se contraposto a favor e contra a decisão que confirmou a condenação do ex-Presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. Estas forças, que foram às ruas e também ocuparam as redes sociais fazem um papel de julgadores políticos, onde a questão jurídica e fática pouco importa, sendo relevante apenas a paixão político-partidária. E é razoável, numa Democracia, que seja mesmo assim! Digo razoável por que qualquer julgamento que envolva paixões, a razão não atua e, via de consequência, os riscos de haver equívocos são muito grandes!
À parte da questão política, permeada pelas paixões, há o aspecto jurídico que por sua vez tenta ao máximo pautar-se na objetividade, aplicando as regras já preteritamente previstas e que devem valer para todos, indistintamente. Ao Poder Judiciário cabe aplica-las, seguindo ainda um conjunto de procedimentos (também já previstos) até culminar com a decisão final. Por conta de possibilidade de erros, inerentes à própria falibilidade humana, é que todos os processos estão sujeitos ao chamado duplo grau de jurisdição, ou seja, todos têm o direito de recorrerem das decisões judiciais para que os processos sejam decididos também em outra instância superior.
Todavia, em que pesem estas questões político-partidárias, com os influxos provocados pelas paixões, e ainda o fato de ter havido uma decisão judicial em segunda instância, há algo que é mais importante analisar. Por isso deixo o mérito da análise da decisão judicial para os advogados que defenderam o ex-presidente Lula e para o Ministério Público que o processou; também não devo adentrar aqui nas questões políticas, deixando-as para os partidários.
Nesse contexto, a condenação do ex-presidente Lula, ou ainda a sua absolvição futura, considerando que as instâncias todas ainda não foram exauridas, com as ressalvas sobre as questões políticas e jurídicas acima sucintamente expostas, deve representar um marco para a Democracia do país.
Outrora inimaginável, com certeza fruto de uma herança que vem desde o Brasil Colônia, que Raymundo Faoro tão bem retratou na obra Os Donos do Poder, o julgamento pelo Poder Judiciário de um ex-presidente da República, justamente por crimes praticados em decorrência do cargo que ocupava, tem o condão de fazer surgir um novo começo para a história do Brasil. O Brasil que todos queremos!
De fato, o julgamento em espeque dá provas de que os poderes constituídos estão atuando, de que no Brasil ninguém está acima das leis, e ainda de que os eventuais erros cometidos no desempenho de cargos ou funções públicas podem cobrar um valor muito alto, que pode significar a própria perda da liberdade, não mais compensando cometê-los na esperança de que não sejam descobertos.
Longe, pois, repito, de discutir o mérito da questão jurídica sobre a existência ou não de provas, bem como sobre as causas e/ou repercussões políticas em um ano eleitoral, o julgamento do ex-presidente Lula deve servir como um marco histórico, como um fato importante, tão importante como o descobrimento de um novo Brasil.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 25 de janeiro de 2018 do Jornal O Dia.
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
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A tragédia de Desdêmona e Capitu ou o perigo do fim da presunção de inocência

Em sua coluna “Embargos Culturais” no Conjur, de 25 de março de 2018, o professor Doutor Arnaldo Godoy, uma das maiores culturas literárias desse país, escreveu instigante texto com o tema: “O drama de Capitu, a suprema injustiça e a tragédia das condenações sem prova”. Em sua exposição, que trata da obra machadiana “Dom Casmurro”, aborda sobre o problema da discriminação histórica da mulher.
A condenação de Capitu seria um absurdo jurídico, segundo o texto, considerando que “…a acusada não se defendeu. Essa nulidade é insanável. O ofendido é, ao mesmo tempo, juiz, promotor, narrador, relator e revisor. Um julgamento sério de Capitu não passaria pelo labirinto da jurisprudência construída em torno do artigo 155 e seguintes do Código de Processo Penal atualmente vigente.”
Ao ler o artigo, imediatamente lembrei-me de Desdêmona, personagem Shakespeariano, da obra clássica Otelo, O Mouro de Veneza, escrita por volta do ano 1603. Em Otelo, tal qual Dom Casmurro, a história gira em torno de temas relevantes e discutidos até os dias atuais, como racismo, amor, ciúme e traição.
Em que pese tratar-se de situações e realidades distintas, Capitu e Desdêmona foram mulheres vítimas, havendo muitas semelhanças em suas condenações. Otelo creu na infidelidade de sua esposa Desdêmona e a assassinou a sangue frio. Ele também, Otelo, a julgou, a condenou e executou a pena. Tudo sem qualquer oportunidade de defesa, baseando-se apenas em uma armação engendrada por Iago.
Godoy conclui que “ao condenarmos Capitu, caímos na armadilha que Machado de Assis nos armou. Nos esquecemos que Capitu não se defendeu e que não teve defensores. É na sua naturalidade, que no fundo é uma inocência humana que todos deveríamos ter, até prova definitiva em contrário, que se extrai a força e o argumento de sua redenção. Não se pode condenar com base em um olhar. Ainda que esse olhar seja o mais enigmático e desafiador de toda nossa literatura.
Um final eloquente e que remete o leitor a profundas reflexões, especialmente na época difícil que se vive no Brasil, em que a Democracia encontra-se em crise, abalada pela desarmonia entre os Poderes da República e pelos embates intrapoder. Veja-se a discussão durante a sessão plenária do STF (21.03.18) entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
O grave é que a fragilidade democrática termina por malgastar as garantias democráticas, como a presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988, e que impede condenações antecipadas e precipitadas, e que os julgamentos serão realizados de forma justa e com respeito à dignidade da pessoa humana.
Ocorre também que a mitigação da força desse princípio, quando mitigada por uma abalada Democracia, ganha um status que vai ao perigoso senso comum, fazendo com que a sociedade, de forma irrefletida, passe a julgar e a condenar as pessoas, em prejulgamentos os mais absurdos, como se passou a ver nas redes sociais. As chamadas Fake News já superam a quantidade de notícias verdadeiras que são divulgadas e a todo o momento pessoas estão sendo massacradas e vilipendiadas injustamente.
Assim, as Capitus e Desdêmonas se multiplicam, trazendo as obras em referência para uma realidade que talvez supere a própria crueldade que elas estampam.Se isto não for eloquente o suficiente, como demonstrou o prof. Arnaldo Godoy em seu belo artigo, para alertar sobre o perigo de condenações precipitadas, sem defesa, tal como vem ocorrendo no dia-a-dia das redes sociais, nada mais pode ser. Talvez só quando incrédulos e descrentes forem vitimados pelo próprio veneno.
*Texto publicado originalmente na edição de 29 de março de 2018 do Jornal O Dia.
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As incongruências de uma nação esfacelada: o país do carnaval e do futebol!

Normalmente costumo dar título aos artigos após escrevê-los, o que é natural, considerando que os pensamentos vão se desenvolvendo e se delineando ao longo do texto, muitas vezes tomando caminhos outros que os pensado inicialmente. Neste, todavia, já saí logo com “as incongruências de uma nação esfacelada…” encabeçando. Reputei fácil escrever sobre esse tema que me surgiu após algumas leituras prévias de textos do ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, publicados na revista Carta Mensal da Confederação Nacional do Comércio – CNC. As incongruências no Brasil, porém, para um observador mais atento, estão expostas às escâncaras e algumas são históricas, se repetem, e não se vê luz que aponte para o fim das mesmas.
Por exemplo: riqueza x pobreza. Ora, na maior parte do mundo sempre houve e continuará a existir essa dicotômica relação e isto não se caracteriza como uma incongruência per si, pois diversos fatores têm influência nessa diferenciação social e econômica. Este não é o ponto que quero abordar.  A questão fulcral, assim, não é a dualidade (ricos e pobres), mas o distanciamento, o afastamento, o abismo cada vez maior que os separa e que avança sem freios nem paliativos.
A incongruência aqui apontada, desse modo, não está no fato de existirem ricos e pobres, mas sim no fato de se permitir que isto se acentue cada vez mais, ao invés de se buscar diminuir a distância que os separa, especialmente quando estamos em um país onde ainda é possível se encontrar milhões e milhões de reais em cédulas dentro de malas em uma sala de apartamento, oriundos de propinas e corrupção. De um país que possui terras férteis e água abundante como nenhum outro, em um país que se arrecada em poucas semanas (em apostas da loteria) mais do equivalente a um milhão de reais por brasileiro (pode incluir os brasileiros que estão nascendo enquanto alguém lê este artigo).
A incongruência se exacerba quando milhares de pessoas vivem nas ruas, sem moradia digna e outros tantos morrem à míngua nos hospitais públicos. Quando o índice de analfabetismo é gritante a educação é um faz de conta para inglês ver ou mesmo quando a violência passa a dominar o Estado a ponto deste não saber como combatê-la, com pessoas morrendo diariamente vítimas de latrocínios e homicídios.
Já que toquei no tema da educação, facilmente posso citar outra incongruência, desta feita colhida dos dados do ex-ministro da Fazenda acima referido, onde informa que no Ministério da Educação o número de funcionários aumentou de 188,4 mil em 2008 para 288,3 mil em 2016, tendo os gastos orçamentários, em termos reais, uma expansão de 95% em oito anos. A incongruência que me refiro não está no aumento de pessoal ou de gastos, mas no fato de que Brasil há aproximadamente dois milhões de jovens que nem trabalham nem estudam e mais de um milhão de menores de 17 anos que não estão na escola.
A incongruência está ainda no fato de que, segundo levantamento da OCDE (Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico), 43,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 16 anos que estão na escola declararam exercer algum tipo de trabalho remunerado em suas rotinas. Na Coréia do Sul, esse índice é de apenas 5,9%!
Se ainda não bastasse, os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), mostram uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática, sendo que o Brasil caiu no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. E o que dizer se o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo?
Infelizmente, muitas são as incongruências que poderia citar e como disse no início seria fácil, o que comprova o esfacelamento da nação. O mais importante, porém, é observar que em um país com tantas incongruências, em um ano que o povo irá mais uma vez às urnas, os debates continuem a se dar longe do que efetivamente importa. Promessas gerais, abstratas e falaciosas devem ser a tônica das campanhas eleitorais, enquanto o país continuar a replicar suas incongruências (já crônicas), longe de se realizar um debate profundo sobre os problemas, suas causas e eventuais soluções.   Mas e daí? Afinal, o Brasil é ou não é o país do carnaval e do futebol? E ainda é janeiro e a copa do mundo da FIFA em junho. É, tive que acrescentar algo mais ao título, como se viu!
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A tragédia política no Brasil

A política é algo de grande complexidade e é por isso que filósofos, sociólogos, economistas e juristas, para citar apenas estes, têm produzido ao longo da história antagônicos debates, muitas vezes recheados de falsos conceitos e premissas, mas sempre fiéis às suas respectivas razões que, por sua vez, estão quase sempre permeadas pelas paixões e ideologias. Eis o problema, eis o lado ruim da política!
Já tenho dito que enquanto prevalecerem os interesses pessoais em detrimento do bem comum, as decisões políticas sempre serão equivocadas e a maior prejudicada será a sociedade a quem são dirigidas tais decisões. Saltam a olhos vistos os debates entre políticos sobre interesses da sociedade onde estes mesmos interesses ficam relegados ao segundo plano e onde sequer são objetos de uma verdadeira análise. Em verdade, a discussão gira mais sobre apoios políticos e trocas (muitas delas espúrias) de votos por emendas ou cargos. Basta observar o que ocorreu com a (falsa) reforma política, a reforma trabalhista e a tentativa de reforma da previdência no Brasil.
A questão também é que os políticos não perceberam que caminham sobre o fio da navalha e que estão à beira de um precipício. Afastaram-se demais do ideal Democrático e do Estado de Direito. Em troca do poder entregaram o país ao banditismo, à corrupção e às drogas, vindo as mazelas sociais como consequências desse abandono.
Hoje não sei em que tipo de Estado vivemos, mas também isto não importa quando se está em uma guerra social. Que o diga a Venezuela! E não é por menos que cerca de oitocentos venezuelanos atravessam diariamente a fronteira para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Um perfeito paradoxo, não fosse o Brasil um país Continental. Se a fronteira brasileira fosse o Estado do Rio de Janeiro, penso que a história seria outra.
De fato, o Rio está em guerra, não apenas a social, mas também em guerra no sentido literal da palavra. Seria interessante utilizar o Rio como modelo, transformá-lo em uma miniatura de Brasil e ver o que a política de lá fez com a Cidade Maravilhosa, com o País do Futuro. Guardadas as proporções, o que ocorre lá não é diferente do que ocorre no restante do Brasil. Talvez lá a história esteja apenas um pouco mais avançada.
A História tem demonstrado, ademais, que todas as guerras, revoltas ou revoluções que ocorreram no passado, sempre iniciaram em algum lugar específico, nunca foram deflagradas coletivamente.
O problema da política tem sido os homens que a fazem e não ela em si, até porque somente a própria política pode resolver os problemas sociais, mas não os mesmos homens.
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A Lei de Adaptação aplicada ao Mercado: o caso dos Táxis e dos Sindicatos

Segundo Gonzalez Pecotche, “adaptar-se é, pois, preparar dentro de si as condições adequadas para que o equilíbrio normal da vida perdure sem modificação, ainda que se modifique a vida tantas vezes seja necessário e o reclamem as circunstâncias.” A adaptação, como ensina a Logosofia, é uma das tantas Leis Universais que existem e como tal, seguindo os princípios que regem este conjunto de Leis, é inexorável e inexpugnável. A Lei de Adaptação pode e deve ser aplicada em todas as circunstâncias que abarquem a vida do ser, seja no ambiente de trabalho, seja em sua vida de relação. Não compreender a atuação dessa Lei implica consequências às mais graves.

Pecotche ensina ainda que, “se aconteceu um fato que obriga a um câmbio, permanecer no mesmo estado ou condição equivale a viver à margem da realidade e, portanto, a sofrer intensamente.  Isto é o que sempre acontece quando o homem resiste aos câmbios: daí que brotem por toda parte a dor, as misérias, as angústias, e seja o sofrimento um visitante quase permanente nos corações humanos.”

Quando se pensa no mercado produtivo, seja no âmbito do comércio ou da indústria, por exemplo, é fácil compreender a imposição às mudanças, ou seja, à adaptação. De fato, as tendências de consumo, a inflação, a queda da taxa de juros ou a desvalorização da moeda, impõe que as empresas estejam em constante adaptação se quiserem sobreviver em um ambiente tipicamente competitivo.

Darwin vaticinara, há séculos, que não era o mais inteligente e tampouco o mais forte o que iria sobreviver, mas justamente o que melhor se adaptasse. Claro que o referido cientista estava tratando da evolução das espécies na natureza, mas quem seria melhor que a própria natureza para ensinar o homem?

Há algum tempo presenciado o surgimento do Uber, empresa detentora, hoje, do maior mercado de prestação de serviços de transporte de passageiros do Mundo, e isto sem ser proprietária de um veículo sequer. O Uber, uma novidade no mercado de transporte, coloca em risco a sobrevivência do táxi, modelo secular de transporte de passageiros que até então dominava o mercado. O Uber representa um claro perigo aso taxistas, a ponto de colocar em risco a existência da própria profissão de taxista.

Ao que parece, os táxis dominavam o mercado e, sem concorrência, não se forma se adaptando às próprias exigências naturais de um consumidor cada vez mais exigente e consciente de seus direitos. Quem não tiver alguma queixa contra os táxis que atire a primeira pedra!

Outro exemplo diz respeito às novas alterações na legislação trabalhista no Brasil. É que a Contribuição Sindical, antes compulsória, com a reforma estabelecida pela Lei 13.467/2017, ganhou um novo status e os trabalhadores precisam agora voluntariamente contribuir. A princípio, não deveria ser problema algum, afinal os trabalhadores beneficiários do trabalho dos sindicatos deveriam ter interesse em fazer essa contribuição.

Todavia, se observar que das vinte ações contra a nova lei, ajuizadas no STF, quatorze tratam justamente sobre o fim da compulsoriedade, verifica-se que a coisa não é bem assim, já que os autores dessas ações, Federações e Confederações de trabalhadores, argumentam que a manutenção da referida alteração implicará no fim dos sindicatos.

Seguindo o mesmo aspecto da Lei de Adaptação, acima explicitado, e em face à unicidade sindical existente no Brasil, percebe-se que o “mercado de trabalhadores”, dominado pelos sindicatos, com o fim da compulsoriedade, precisa urgentemente adaptar-se. Antes tarde do que nunca, diz o ditado popular!

Percebe-se que nem os táxis e tampouco os sindicatos foram capazes de perceber as mudanças, as situações novas. Não foram hábeis para sentir o mercado que os mantinham, negligenciando nas necessárias adaptações que se impunham. Talvez agora já seja tarde demais.

Os aplicativos como Uber já se proliferam e o próprio Estado já reconhece a legitimidade dessa nova atividade. Quanto aos sindicatos, estes ainda veem uma luz no fim do túnel nessas ações junto ao STF, a quem caberá a última palavra.

O certo, seguindo esta linha de raciocínio, é que a Lei de Adaptação, mais uma vez citando Pecotche, “é tão inflexível que não admite meio termo entre uma e outra situação: cambia-se ou não se cambia.”

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