Mais um ano se finda. Fazer uma retrospectiva do que passou é sempre o comum e natural nessa ocasião, todavia a história tem comprovado que esse exercício reflexivo, cujo objetivo é buscar os erros e acertos, para se evitar a repetição dos primeiros e dar continuidade ao que ocorreu de bom, não tem sido exitoso. Ao contrário, inclusive já virou jargão, a história se repete e se repete naquilo que tem de pior. Ou seja, os erros continuam a ser praticados!
Nesse ponto, dessa forma, penso que duas análises podem ser feitas: ou a análise retrospectiva é mal feita, passando-se à margem daquilo que efetivamente importa e é mérito, sendo condição sine qua non para que o passado sirva de fato como exemplo; ou ao invés de se ir atrás (saudosamente) do que passou, a reflexão deveria se inserir em um contexto de futuro. Ressalto que as afirmações acima não são excludentes.
Na obra Mundo em Descontrole: o que a globalização está fazendo de nós (Giddens, 2011) o autor ressalta que “Karl Marx, cujas ideias muito deveram ao pensamento iluminista, expressou essa concepção (de que quanto mais formos capazes de compreender racionalmente o mundo, e a nós mesmos, mais poderemos moldar a história para nossos próprios propósitos. Temos de nos libertar dos hábitos e preconceitos do passado a fim de controlar o futuro) em termos muito simples. Temos de compreender a história, afirmou ele, a fim de fazer história.”
Desse modo, toda retrospectiva deve ser feita sem preconceitos, partidarismos ou ideologias, sob pena da análise se tornar inservível como exemplo apto a moldar um novo porvir.
Jürgen Habermas (2000), na obra “Más allá del Estado nacional”, ao tratar da importância de se aprender através da história salienta que “o acontecer/evento histórico adquire um núcleo de validade que precede qualquer reflexão (…), mas a “história” continua a ser uma fonte de algo que vale a pena conhecer porque pode continuar a tomar, ao que parece, critérios e valores (…)” e “no entanto, a justificativa hermenêutica da história como uma mestra da vida tem para filósofos e escritores e, em geral, para intelectuais e cientistas de espírito, algo que é, à primeira vista, convincente”.
É por demais importante, pois, que a retrospectiva de 2017 seja feita com muito zelo, considerando ter sido um ano marcado por diversos acontecimentos políticos e sociais. Este ano de 2017 reveste-se ainda de um caráter de transição, já que se tratou de várias reformas, mesmo que apenas a trabalhista tenha sido efetivamente concretizada. É que a reforma política não teve o condão de alterar nada substancial e a reforma da previdência restou adiada.
A retrospectiva de 2017 deve ser concretizada com um olhar muito especial, sobretudo porque antecede a um ano eleitoral em que a população mais uma vez irá às urnas escolher seus representantes, aqueles que terão a possibilidade de fazer com que o futuro não seja simplesmente um novo passado.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 28 de dezembro de 2017 do Jornal O Dia.