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Brasil, o país da Política Estética

A estética (do grego aisthésis: percepção, sensação, sensibilidade) é um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza da beleza e dos fundamentos da arte, mas que pode também ocupar-se do sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.
O sentido que quero dar, todavia, à palavra estética, ligada à política brasileira, é o da roupagem externa que encobre (ou tenta encobrir) os defeitos e deficiências, através de artifícios usuais, que se travestem de legalidade, mas que são em verdade o avesso da eticidade e da moralidade mínima aceitável. Seria como uma cirurgia plástica, eminentemente estética, que vista de longe encobre os sulcos que delineiam um rosto, mas que através de um olhar mais acurado, mais próximo, não tem o condão de eliminar as agruras que dilaceram as faces. A política, assim, jamais poderia ser estética no sentido aqui estabelecido! A política, uma arte sim, desde que desnudada dos vícios da falta de transparência e dos interesses pessoais e torpes.
A política estética difundida pelo Brasil, longe de ser a arte do belo, gera um asco que afasta as pessoas, que passam a odiá-la como se ela fosse a culpada e não os que a fazem.
Política não pode ser uma troca pessoal de favores, de concessão de benesses e tampouco um instrumento de dominação. É isto o que a estética busca em vão encobrir!
A Democracia é o meio pelo qual a política deve ser exercida, de forma pura e fiel aos princípios e valores mais caros aos cidadãos. É a ética se contrapondo à estética que intenta camuflar com a falsa arte da política a monstruosidade que aflora das atitudes de políticos democraticamente eleitos.
A política estética no Brasil é uma clara e infeliz realidade, que faz sofrer e faz penar todo o povo brasileiro.
Enquanto a consciência não tomar o seu lugar de destaque na vida de cada um e de todos, e a ética passe a guiar os passos como um farol que reluz para um mar escuro e sombrio, o porto seguro sempre estará inacessível e cada vez mais distante.
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A violência que assola o Brasil hoje é a mesma que destrói o amanhã

Violência por todos os lados e de todas as formas! Este é o cenário de um país que já fora do futuro. Um futuro que chegou, mas não da forma desejada pelas pessoas, pela sociedade e nem por ninguém. O Brasil, país do futuro, na verdade, sucumbe para o crime, amargando índices de violência muito piores ao de países considerados em guerra. Mas um país sem educação jamais pode almejar qualquer futuro, senão o que se tem descortinado nos morros, favelas, presídios e em todos os demais lugares. A violência urbana impera, seja nas escolas, nas praças, nos shoppings centers… ou mesmo em casa!
Em 2015, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ligado a ONU, a taxa de homicídios de brasileiros para a faixa etária entre meninos de 10 a 19 anos é de 59 mortes em cada 100 mil habitantes — o Afeganistão tem taxa de 49 e o Sudão do Sul, pasmem, 29! Observe-se que este índice se refere apenas aos jovens mortos há quase três anos, pelo que se pode afirmar que hoje deve ser bem maior. E o futuro se torna cada vez mais sombrio!
São jovens que deixarão de trabalhar, de produzir, de criar projetos. Jovens que não constituíram novas famílias e que, muitas vezes, terminaram por destruir as próprias. Jovens que não tiveram a oportunidade, sequer, de serem felizes.
E o que dizer se buscar averiguar os índices de violência em outros grupos, não só nessa faixa etária, mas no número de mortes causadas pela violência de um modo geral? Seria como derramar sangue pelas linhas deste pequeno texto. E a violência que mata a dignidade das pessoas, que destrói suas esperanças e seus sonhos? Onde inseri-las?
E o Brasil continua em vão a combater a criminalidade, quando a solução está na educação. Não há país do futuro sem educação. Não poderá haver nunca. E sem educação, a violência passa a ocupar os espaços vazios, inclusive, e especialmente, o espaço da mente dos jovens que, sem rumo, vagueiam indefesos pelas grutas da marginalidade.
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A Reforma da Previdência e seus três problemas essenciais

A reforma da previdência, tão discutida no/pelo Congresso Nacional brasileiro, comporta três análises, a meu ver, que estão interligadas, e que resumem bem todo o contexto atual.
A primeira, é que falta transparência, como na maioria das questões que envolvem a política no Brasil. De fato, a previdência nos moldes atuais está falida? Ou seja, na formatação em que se encontra, com as idades de aposentadorias estabelecidas até então, há (ou haverá em um futuro próximo) um passivo que não poderá ser pago, onde a arrecadação é menor que a despesa? Se a resposta for afirmativa, onde se encontram os números e as estatísticas? Se existe, quem os elaborou? São efetivamente reais?
Percebe-se que, com estas perguntas básicas, já se pode observar que não há transparência nos argumentos do governo, posto que seria simples comprovar a necessidade ou não de reforma. É claro que aqui caberia outro questionamento: Se a previdência tem um déficit, qual a causa? São desvios, má administração, ou efetivamente o modelo em vigor não é mais viável? Aqui, também, se a resposta estiver atrelada aos aspectos relacionados à má gestão, a reforma terá o condão apenas de jogar o problema para frente, permitindo-se que os desmandos administrativos continuem. Penso que, sem responder a estas perguntas simples, mas essenciais, não se pode sequer iniciar um debate sobre uma possível reforma.
A segunda análise que deve se feita, diz respeito ao fato de que no Congresso não há, de nenhuma das partes, deputados e senadores, qualquer interesse em tomar a melhor decisão para o país. O que menos importa, conforme tenho visto, é a aposentadoria ou a condição de vida do brasileiro em sua velhice. O que tem importado para os congressistas é própria política particular de cada um: a reeleição, as emendas parlamentares, os cargos partidários e pessoais. Nada mais importa. E abertamente, digladiam-se em busca de favores políticos em troca de apoio ou contrariedade da reforma. Basta observar, apenas como uma pequena demonstração do que afirmo, que a discussão atual é que haverá eleições no próximo ano e que a reforma não poderá mais ser votada (ou aprovada), porque poderia gerar insatisfação de uma parte do eleitorado. Ou seja, não interessa o mérito da reforma, se é necessária ou não. Isto é o que menos interessa!
Assim, chego à terceira análise: o egoísmo e o individualismo das pessoas! Quem já está inserido no sistema atual não aceita em hipótese alguma qualquer mudança nas regras. Que se danem os que não poderão se aposentar, que as gerações futuras encontrem outra forma de resolver o problema, que é delas, posto que o das atuais já se encontra (bem?) resolvido. Se a previdência está falida e vai quebrar, pouco importa! Se há uma clara discrepância entre os servidores públicos e privados, que têm a mesma contribuição, mas recebem seus proventos de forma diferente, o problema é de quem recebe pouco e não dos que recebem muito.
Alguns já subiram a escada, e já estão lá, (bem ou mal, não importa), outros estão nos degraus, e outros, querendo subir, estão a caminho. A questão é que talvez a escada precise ser derrubada e substituída por outra. Mas ninguém quer sair de sua zona de conforto, não importam as consequências!
É dessa forma que o problema da previdência continua, como se interminável fosse, como se não dependesse (a sua solução) apenas da boa vontade política e do interesse de todos coletivamente. É preciso compreender que a previdência é um patrimônio público, e como tal, necessita ser bem tratado, zelado, para que possa continuar a servir a todas as gerações, as de hoje e as de amanhã.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 09 de novembro
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A Reforma Trabalhista e a necessária razoabilidade em sua aplicação

Mal a Reforma Trabalhista entrou em vigor (Lei 13.467/2017 e MP 808/17), as discussões já eclodem por todo o Brasil. Uma enxurrada de ações já estão sendo ajuizadas no Supremo Tribunal Federal – STF discutindo alguns dos novos dispositivos, ou seja, muita coisa já está sub judice, o que coloca em risco a aplicabilidade imediata dos dispositivos questionados.
Cinco ações diretas de inconstitucionalidade já foram ajuizadas no STF questionando o fim da contribuição sindical obrigatória. É que o artigo 1º da indigitada trata do imposto sindical e condiciona o desconto à autorização prévia e expressa dos trabalhadores.
Outra ação no STF questiona trecho da Reforma que trata sobre trabalho intermitente ou descontínuo, sustentando violação ao direito ao salário mínimo e grave flexibilização do princípio protetor que rege do Direito do Trabalho.
O Jornal El País publicou semana passada (21.11) a seguinte notícia: “A reforma trabalhista que começou a vigorar no Brasil em 11 de novembro já começa a mostrar seus resultados. Um dos primeiros afetados pelas novas regras  se chama Cosme Barbosa dos Santos, um trabalhador rural de Ilhéus, na Bahia. No início deste ano, ele entrou com uma ação trabalhista contra o dono da fazenda onde trabalhava até novembro do ano passado. Por ter sido baleado em um assalto no local e ter sido despedido após a licença médica, pedia um total de 50.000 reais em indenizações. No final, não apenas perdeu a ação como o juiz também lhe negou o benefício de justiça gratuita e decidiu que Cosme deve pagar 8.500 reais pelos custos do processo — entre honorários, custas e condenação por supostamente agir com má fé. Um dinheiro inimaginável para a realidade em que vive: antes de estar desempregado, ganhava 880 reais por mês na fazenda.”
No mesmo dia, 21.11, o site Conjur divulga que o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho – TST, Alexandre Agra Belmonte, teria dito que a reforma trabalhista flexibilizara as relações entre empregadores e empregados e que isso deveria impulsionar o crescimento econômico do Brasil e a retomada do mercado imobiliário.       São essas possíveis incongruências já existem desde o nascedouro da reforma é sinal de que ela (reforma) precisa ser maturada, pensada e analisada com profunda razoabilidade, aliás, como tudo na vida, para que a nova lei possa gerar todos os frutos almejados, como geração de empregos, e não se torne um atentado contra os direitos sociais dos trabalhadores.
A única certeza, todavia, é que muito ainda vai ser debatido sobre a reforma trabalhista e penso que a razoabilidade será o único instrumento capaz de resolver os problemas que advirão e ainda de colaborar para que se possa efetivamente construir um novo caminho para a relação de trabalho no Brasil.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 30 de novembro de 2017 do Jornal O Dia.
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Em como a tragédia dos comuns pode se tornar na tragédia dos homens

Estamos vivendo um momento crucial na história da humanidade, como já tenho assinalado em outras oportunidades. E é fato inconteste que, em que pese o tamanho do planeta Terra, parece não haver espaço para toda a população e tampouco alimentos. Que o digam os milhões de pessoas que têm migrado em busca de melhores condições de vida, de um espaço onde possam viver em paz e com dignidade. Outros tantos passam por necessidades extremas e, em situação de miséria, vivem em condições de degradação humana.

Em 1968, há quase 60 anos, na revista Science, o biólogo Garrett Hardin publicou pequeno ensaio intitulado “The TragedyoftheCommons” (A Tragédia dos Comuns), expondo o risco da exploração livre de um recurso natural finito. Hardin explica que se as pessoas passarem a utilizar individualmente um recurso em benefício próprio, sem pensar coletivamente, ou sem qualquer tipo de controle, o bem terminará por ser extinto, impossibilitando a continuidade de produção e o aproveitamento do recurso por todos. Parece óbvio, por certo! Se a pesca é livre, por exemplo, e é exercida de forma indiscriminada e sem regulamentação qualquer, se tornará predatória e em face da sobre pesca, algum tempo futuro, não haverá peixes.

Mutatis mutandis, a obviedade da análise inicial se torna bastante complexa quando, em um cenário de globalização, o consumo torna-se desenfreado, as fronteiras geográficas se abrem e os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos.

Veja-se, para citar apenas alguns exemplos,o problema das águas, com a superexploração de aquíferos e desperdício de água, aliada à falta de chuvas e o excesso de utilização de energia elétrica por uma superpopulação;a extração predatória de madeira; queima de combustíveis fósseis e consequente aquecimento global; e a destruição de habitats e a caça clandestina e predatória de diversos animais, como a de baleias pelo Japão.

Seria a desglobalização uma alternativa? O fenômeno da globalização, tão decantado na década de 1980 como uma nova ordem que solucionaria os problemas mundiais, especialmente de natureza social e econômica, teria fracassado? O vaticínio de Hardin em sua tragédia dos comuns estaria se concretizando? Por certo que não há respostas claras e concretas para estas perguntas, sendo importante, todavia, se debater sobre elas, sem ignorar que os problemas apontados fazem parte da ordem do dia, sob pena da tragédia dos comuns se tornar na tragédia dos homens, e isto ninguém, com razoável bom senso, pode desejar que ocorra!

*Texto publicado originalmente na edição do dia 07 de dezembro de 2017 do Jornal O Dia.

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O Brasil de amanhã continuará a ser o Brasil de ontem, ou não!

Sempre critiquei a nomeação de Secretários de Estado e de Ministros, em troca de apoio político nas Assembleias Estaduais e no Congresso. Entendo que seja um ilegal exercício da Democracia por ferir princípios éticos basilares e a própria vontade popular nas urnas, que vê candidatos eleitos para mandatos legislativos passarem a compor pastas no Executivo. E o que é pior, candidatos que não obtiveram votos suficientes, passam, com essa troca, a ocupar postos no Legislativo.
Essa troca é tão espúria e absurda, que tão logo chega o prazo estabelecido pela legislação eleitoral para a desincompatibilização, o Executivo se desfigura. É que os políticos nomeados Secretários e Ministros deixam suas funções para disputarem as eleições. E a decantada Reforma Eleitoral nada reformou, pois tudo continuará como sempre esteve. Triste vaticínio!
Em verdade, as Secretarias e os Ministérios têm o condão de funcionarem como trampolim político, como fortíssimos cabos eleitorais de seus comandantes, ao invés de se articularem como elementos de administração necessários à condução do Governo em prol da sociedade. As escolhas para pastas tão importantes como as Secretarias e Ministérios são feitas, quase sempre, por interesses político-partidários e pessoais, não por projetos de governo ou alinhamento de ideias, tampouco por análise de competências.
Mas isto tudo é tão comum no Brasil!
Aí é que reside o problema! O brasileiro aprendeu a se acostumar com o errado, com o famigerado “jeitinho”, com a política de compadrio e de espuriedade, da mesma forma que se acostumou com a violência urbana, com mortes violentas ocorrendo a todo instante, em todos os lugares. O brasileiro acostumou-se com o descaso para com a saúde e educação, assim como para com o desemprego.
O brasileiro é adaptável a tudo o que está errado, afinal, amanhã, tal qual uma dança das cadeiras, estes mesmos nomes estarão novamente ocupando suas pastas em Secretarias e Ministérios, de volta ao lar, para mais um período de repetição de tudo o que está aí, desde muito tempo. E assim, o Brasil de amanhã continuará a ser o Brasil de ontem!
Como dizia meu saudoso pai em sua grande sabedoria popular: Deus permita que eu minta!
Todavia, enquanto houver voz, ruas, imprensa livre, urnas e acima de tudo coragem, haverá esperança! E é por isso que é preciso pensar muito e pensar bem. Pensar no futuro das gerações vindouras, naquilo que está sendo construído para elas. Refletir sobre as escolhas que serão feitas, nos caminhos que precisam ser seguidos, para que pelo menos aquelas gerações possam ter um exemplo e possam viver em um país melhor, em um mundo melhor e possam saber que a geração de hoje colaborou para a construção desse lugar de amanhã.
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O desrespeito às instituições é o primeiro passo para desmoroná-las

Estamos em um período muito perigoso de nossa recente história democrática. Ou seja, mal iniciamos uma Democracia, que ainda não se firmou com a necessária agudeza e firmeza, já a colocamos em risco.
De fato, os poderes legalmente constituídos, em que pese estarem atuando com base nos princípios democráticos, constitucionalmente estabelecidos, sofrem uma terrível crise de identidade, e na busca por mais poder terminam se digladiando entre si. E dessa forma, essa carência de afirmação institucional vai, tal qual um câncer, corroendo as suas entranhas, as que lhe dão sustentação. Ocorre que estes mesmos poderes são os que legitimam a própria Democracia!
Quando a Constituição Federal estabelece em seu artigo 2º que os Poderes da União (Legislativo, o Executivo e o Judiciário) são independentes e harmônicos entre si, expressão que tem sido objeto de tanta controvérsia e debate entre juristas, mesmo diante de uma singularidade e clareza solar, ela quer explicitar que referidos Poderes são as pilares de sustentação da própria União. Afinal, é através destes Poderes que a União se manifesta, se faz presente em nome do Povo, que é de onde emana todo o poder.
Quer dizer mais, o referido artigo 2º: quer dizer que estes Poderes devem estar irmanados em um único objetivo, a própria manutenção do Estado Democrático de Direito, com todos os direitos nele constituídos em favor dos seus cidadãos. E é por isso mesmo que, em harmonia, devem laborar na busca incessante de concretiza-los. E este é o ponto crucial dessa sucinta reflexão.
O Povo, que é o verdadeiro “dono” do Poder numa Democracia, quando vê que as instituições que deveriam lhe servir, ao contrário, em dissonância com o estabelecido pela Constituição, passam a disputar espaço e poder, muitas vezes em total desrespeito uma para com a outra, ou até mesmo internamente, e não conseguem dar cumprimento às suas funções, termina por desacreditar nelas (instituições) e também a desrespeitá-las.
Quando o próprio Povo não mais acredita em suas instituições, quando o descaso e o escárnio passam a fazer parte do sentimento de cada um e de todos, a Democracia incipiente, fragilizada, tal como um gigante vazio, pode tombar irremediavelmente.
As redes sociais e a imprensa comprovam tudo isto, e não é raro ver e o ouvir os achaques em face destes Poderes. Como isso, os problemas sociais avançam, a violência toma conta do País e o Povo sofre, justamente o “dono” do Poder. Numa incongruência indizível!
O desrespeito às instituições é o primeiro passa para desmoroná-las ou, quiçá, o último! Eis o nosso vaticínio! Um risco à democracia.
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O Legislativo que não sabe legislar, a culpa in eligendo e a importância do voto!

Segundo o artigo 1º da Constituição Federal de 1988, o Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito, tendo o artigo 2º estabelecido que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. É certo, porém, que a independência desses poderes não é absoluta, encontrando limites estabelecidos na própria Constituição, sendo permitido fazer apenas aquilo que ela (Constituição) determinar. Ao Poder Legislativo cabe, dentre outras funções, fazer as Leis que devem reger a vida em sociedade, estabelecendo condutas, direitos e deveres, mas respeitando sempre os limites e determinações da Constituição Federal. Assim, nesse sistema de democracia constitucional, ao Supremo Tribunal Federal – STF cabe precipuamente a guarda da Constituição, devendo zelar para que as eventuais Leis que venham a ser criadas não a contrariem.

Em levantamento realizado pelo Anuário da Justiça sobre o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) pelo STF em 2017, de cada dez leis analisadas, oito delas foram declaradas inconstitucionais, parcial ou totalmente. Os vícios que culminaram com as inconstitucionalidades são principalmente os que dizem respeito à forma com que foram editadas, mas muitas também têm relação com o conteúdo. Em fevereiro de 2018, de acordo com dados do STF, havia 2.040 ADIs em tramitação na corte, pasme!

É preciso observar que o STF não age de ofício, ou seja, só declara a inconstitucionalidade de uma lei se for provocado, na forma do que também estabelece a Constituição Federal, sendo possível, pois, que existam inúmeras inconstitucionalidades não declaradas pelo país, considerando que há ainda as assembleias legislativas estaduais e câmaras municipais fazendo leis todos os dias, isso sem contar a competência legislativa no âmbito dos governadores de estado e de prefeitos municipais.

A reflexão que fazemos, aqui, se relaciona com a habilidade dos legisladores brasileiros de fazerem leis, afinal como se conceber uma estatística negativa tão elevada no âmbito do Poder Legislativo, quando cada senador, deputado federal, estadual ou vereador conta em seus gabinetes, uns mais outros menos, com uma plêiade de assessores e com toda uma estrutura das casas legislativas, formadas por profissionais das mais diversas áreas, prontos para emitirem pareceres, orientações técnicas, enfim.

Se esses legisladores fossem empregados de uma empresa privada por certo muitos já estariam desempregados, seja por produzirem pouco, seja por produzirem mal ou equivocadamente, como por ocasião da elaboração de leis inconstitucionais. A questão, todavia, é que enquanto empregados do povo, foram escolhidos através das urnas, não tendo como demiti-los por incompetência, tal qual ocorreria se se tratasse de algum empregado qualquer.

Ainda trazendo a empresa privada como analogia, se um empregado no exercício de sua atividade causar dano a terceiro, a empresa será responsável pela indenização, não interessando a qualidade do empregado contratado, considerando ser problema da empresa se contratou mal. É a chamada culpa in eligendo ou simplesmente culpa pela escolha. À empresa fica a possibilidade de imediatamente demitir o empregado que não agiu bem!

Quando o povo escolhe mal seus governantes e estes agem mal, legislando sem observar sequer as regras de legislação, a culpa in eligendo atua perfeitamente também, e o povo arca com os prejuízos que são causados pelo legislador, mas diferentemente do que ocorre na iniciativa privada, o povo não tem como demitir o mau legislador imediatamente. É que a demissão só poderá ocorrer nas urnas, de quatro em quatro anos.

Não se pode esquecer que uma lei mal feita pode trazer sérios e graves prejuízos, inclusive e especialmente prejuízos sociais. Leis podem retirar direitos conquistados, usurpar competências, fechar escolas ou hospitais. São variadas as consequências, sendo essencial que o povo as compreenda efetivamente.

Defendemos que o povo tenha o direito, tal qual ocorre na iniciativa privada, de demitir aquele político que uma vez eleito não corresponda às expectativas. Seria importante fossem fixadas metas aos eleitos, fossem analisadas as propostas das campanhas e cobradas o cumprimento delas.

Eleger não pode significar um cheque em branco, uma procuração com poderes absolutos, muito menos a impossibilidade de revoga-la tão logo seja preciso.  Da mesma forma as urnas não podem ser um escudo de proteção, um colete à prova de tudo, inclusive em face do povo, que em verdade é (deveria ser) o verdadeiro dono do Poder, afinal é a própria Constituição Federal que estabelece que todo o poder emana do povo.

Nesse diapasão, o povo deve compreender que ao escolher legisladores ruins está assumindo uma responsabilidade muito grande, da mesma forma que uma empresa que contrata um empregado negligente ou incompetente, com a diferença de que o empregado pode ser demitido a qualquer tempo.

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A greve dos caminhoneiros é apenas mais uma gota no copo chamado “condução da política no Brasil”

Engana-se quem pensa que a situação vivida nos últimos dias pelos brasileiros decorre da greve dos caminhoneiros. Pensar assim é fazer uma análise muito estreita da situação, é enxergar apenas um dos aspectos do verdadeiro problema, que em verdade é macro, indo muito além da revolta de uma classe de trabalhadores. Em verdade, a greve dos caminhoneiros representa uma das gotas que se somou a tantas outras já existentes no copo chamado “condução da política no Brasil”.
Efetivamente, os erros cometidos pelos que estão no comando político do país ao longo deste século, que não chegou sequer ainda ao seu primeiro quarto, já comprometem metade dele, ou seja, nem nos trinta anos seguintes se conseguirá resolver os problemas que foram criados por uma administração pública inescrupulosa, sem ética e sem espírito público. Ao contrário, os políticos no poder, em sua maioria, são individualistas e estão preocupados unicamente com o próprio bem estar. Ouso afirmar, mesmo sem um estudo ou uma base estatística aprofundada, mas tamanho o abismo social existente, que os direitos sociais de algumas gerações já estão comprometidos,pois não terão como ser atendidos, já que não haverá recursos financeiros disponíveis para investimentos nessa área, que historicamente sempre é a mais sacrificada. Neste caso, os índices comprovam sobejamente esta última afirmação, bem como a própria realidade caótica estampada na educação, na saúde e na segurança, enfim.
A greve dos caminhoneiros, todavia, teve o condão de mostrar ao Brasil a imensa interligação que há entre todos os setores que compõe a tessitura social de um país, mas penso que três foram os principais aspectosa se destacar.O primeiro foi o de mostrar à sociedade a sua própria força, a importância de suas profissões, seja qual for, e a dependência que se tem uns dos outros.O segundo, mas não menos importante, foi mostrar também como um governo pode ser questionado sem violência, sem vandalismos e organizadamente, enquanto o terceiro aspecto foi o de dizer ao governo que esse modelo político está ultrapassado e precisa ser urgentemente modificado. Talvez esta última seja a maior lição.
A reclamação contra o preço do combustível foi apenas a faísca que se utilizou para acender o estopim que a cada dia crescia mais e mais, e ainda cresce. Os governantes não podem mais se sustentar encastelados em seus gabinetes, refestelando-se com a coisa pública, como se vivesse ainda na Idade Média reinando em algum Estado absolutista, afinal o parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 estabelece expressamente que “Todo o poder emana do povo…”.
A greve dos caminhoneiros, à medida que o estopim avança, vai tocando nas demais gotas e as despertando da letargia que até certo ponto é natural na cultura do povo brasileiro eesse movimento poderá ser a pedra de toque capaz de fazer gerar uma energia cinética com consequências muito mais graves do que as que até então foram provocadas. A conscientização do poder do povo pelo povo, tal qual como previsto constitucionalmente, pode ser um marco muito mais importante que a existência da própria Constituição em si.
Disse que até a metade desse século os problemas sociais do Brasil não estarão resolvidos, mas faço uma ressalva, abro uma exceção, ao tempo que faço mais um alerta. Um trabalho sério, voltado diretamente para a educação, para o ensino de qualidade, integral, que preze pela ética, pelo culto aos valores morais e levados, pelo civismo, pelo amor à pátria e afeto ao próximo, é a única forma de desviar a rota do abismo iminente e de se salvar a segunda metade do século. Dito a exceção, faço o alerta: se esse trabalho não for iniciado o quanto antes, o tempo não perdoará e para cada dia perdido hoje se terá fatalmente um dia perdido no amanhã.
Texto publicado originalmente na edição do dia 31 de maio de 2018 do Jornal O Dia.
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As redes sociais, a faculdade de pensar e a propagação do bem pelo bem mesmo

Muitas são as críticas feitas às redes sociais, em especial à sua à má utilização. Digo assim porque é uma realidade palpável que as redes sociais têm sido um veículo de propagação de notícias falaciosas e de pensamentos os mais esdrúxulos, sem falar na exaltação de deficiências como se fossem verdadeiras virtudes, tais como a vaidade, a cobiça, o egoísmo e a falsa humildade, dentre tantas outras, e isto não pode ser confundido com liberdade de expressão, até porque não foram poucas as pessoas já vitimadas pelas redes sociais, inclusive penalizadas com a perda da própria vida, fruto de acusações injustas, inverídicas e fantasiosas, para dizer o mínimo.
Todavia, devo ressaltar que o problema não está nas redes sociais, mas sim no uso que as pessoas fazem delas. Efetivamente, enquanto tecnologia a serviço das pessoas, as redes sociais têm hoje (ou deveriam ter) um importante papel a cumprir, afinal são um veículo de comunicação global extremamente rápido e eficaz.
Mas o que leva uma pessoa a difundir falsas ideias, preconceitos e vilipêndios? Penso que o primeiro aspecto é a ignorância, a falta de conhecimento do mal que pode causar ao semelhante e a si próprio; o segundo é a negligência por não verificar a veracidade das informações que estão sendo divulgadas; e o terceiro aspecto é própria irresponsabilidade de quem abandonou a dádiva da faculdade de pensar, recebida do Criador inclusive como importante fator de distinção do homem em relação às demais espécies existentes.
Considero o terceiro aspecto apontado como o mais grave, pois a faculdade de pensar é a principal das demais faculdades da inteligência, sendo através dela que o homem cria os próprios pensamentos e exerce juízo de valor sobre as coisas e os fatos. Abandonar essa faculdade é o mesmo que negar a própria condição de ser humano.
O homem que não pensa encomenda as rédeas da condução de sua vida a terceiros, sendo isto o que ocorre com aqueles que simplesmente repassam notícias veiculadas pelas redes sociais, sem fazer qualquer análise sobre a verossimilhança delas, muitas vezes sem sequer compreenderem o que efetivamente estão repassando.
É uma pena que cada vez com maior frequência mensagens inescrupulosas sejam divulgadas, sendo que hoje esses tipos de mensagens já superam àquelas que efetivamente dizem algo verdadeiro. É ainda triste ver um instrumento tão importante e necessário, em especial nesses tempos modernos, ser utilizado de forma tão incongruente com a natureza humana, desvirtuando a sua própria utilidade e colocando em risco a própria solidariedade entre os homens.
As redes sociais deveriam ser utilizadas como meio de difusão do conhecimento, como instrumento de intercâmbio de opiniões e de ideias, sempre com o objetivo de se construir algo de bem e de valor para a vida em sociedade. Isso mesmo, para construir, jamais para destruir, como se tem visto às escâncaras.
A utilização positiva das redes sociais deveria ser um dever de cada um e de todos, mas isto só ocorrerá se cada um, individualmente, se utilizar das próprias prerrogativas humanas e começar a exercitar a função de pensar, estabelecendo filtros, eliminando os abusos, e propagando o bem pelo bem mesmo.
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