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O papel do escravo político em uma ópera bufa à brasileira

As eleições para o Governo do Estado se avizinham e até o presente momento, menos de quatro meses para o pleito, não se viu nenhum debate de ideias e sugestões no tangente aos gravíssimos problemas sociais existentes, como os atinentes à segurança, saúde e educação. Isto é típico de um Estado que ainda não se modernizou. Um Estado de terceiro mundo que, em verdade, se encontra à beira do caos, invadido pela falência moral e onde os interesses particulares-individuais são mais importantes que os da coletividade. É o individualismo de aldeia que tenho já retratado há algum tempo.
É triste ter que presenciar, à margem das discussões sobre possíveis soluções para extração do Estado da miséria, negociatas e trocas espúrias de apoio político, de cargos e de votos sendo de realizadas de forma “normal”, numa expressa declaração de que o povo ainda vota no cabresto, como verdadeiro escravo político.
Em definitivo, o atual modelo político não mais serve (se é que serviu algum dia) como extrato fiel de uma Democracia, onde todo o poder deveria emanar do povo, já que previsto em caracteres indeléveis na Constituição Federal. A reforma política que nunca existiu precisa ser concretizada efetivamente, pensando-se não nos interesses dos reformistas, mas nos da sociedade.
Como escolher representantes sem que haja sequer um debate prévio e concreto, onde as ideias e propostas sejam analisadas em sua plenitude, não só como retórica ultrapassada? Impossível se escolher representantes sem vislumbrar no mínimo uma plausibilidade em suas proposições.
Mas nada disso será feito, infelizmente! Após se agasalharem todos os políticos em seus pessoais interesses, as mesmas falaciosas propostas genéricas serão ouvidas, numa completa encenação hollywoodiana, para se fingir a existência de uma Democracia plena em um Estado digno de pena!
Mas aos escravos não se dá educação, afinal não precisam pensar, tampouco falar, pois não serão ouvidos. Os escravos políticos se calam, cumprem um papel de aparente protagonismo, mas não passam de coadjuvantes, servindo muitas vezes apenas para compor o cenário onde brilham os verdadeiros atores, que ao mesmo tempo são os diretores desse musical que, não fosse trágico, seria uma verdadeira ópera bufa à brasileira.

 

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As vaidades, o poder, a falácia e o (verdadeiro) lugar a Democracia

Um dia para entrar para a história do país. A corte máxima da justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal – STF, deverá ter decidido sobre uma questão crucial: a prisão de réus condenados em segunda instância fere ou não o estabelecido pela Constituição Federal de 1988, que prevê expressamente que ninguém será considerado culpado senão após o trânsito em julgado da decisão. Ocorre o trânsito em julgado de uma decisão quando dela não cabe mais recurso algum, ou seja, quando não houver mais como se apresentar qualquer recurso que seja. A decisão final da justiça está dada, pois! É o que diz a Constituição, mas Direito é interpretação, é hermenêutica para utilizar uma palavra de maior expressividade.

Assim, o STF, há algum tempo atrás interpretou, com base em princípios de hermenêutica e ainda no direito alienígena, que a presunção de inocência, erigido a princípio constitucional fundamental, se finda com a decisão em segunda instância, relativizando o trânsito em julgado. Desse modo, o trânsito em julgado deve ocorrer quando findam as instâncias que discutem os fatos e não quando findam as questões meramente processuais ou procedimentais, já que apenas estas questões é que poderão(riam) ser levadas às instâncias superiores. Pura falácia, já que as instâncias superiores apreciam fatos todos os dias (quando querem, é claro).

Nesse sentir, o Supremo trouxe para si a responsabilidade por determinar que qualquer que seja o condenado criminal em 2ª instância, deverá este iniciar o cumprimento de sua pena, mesmo ainda na pendência de recursos às instâncias superiores.

Não atinou, todavia, o STF, que em tão pouco tempo teria que (re)examinar esta questão, e isto após muitos condenados já estarem cumprindo pena de reclusão por conta daquele hermenêutico posicionamento. E o que é pior, o Supremo é chamado a decidir novamente com um réu que é nada mais, nada menos, que um ex-Presidente da República, alguém que foi, e talvez ainda seja, a maior liderança popular que este país já viu! O Supremo chamou para si um protagonismo que não deveria existir, enquanto partícipe de um modelo de democracia que preconiza a independência harmônica entre os Poderes.

Mas, o mais grave: O Supremo dividiu o país e as consequências da (nova) decisão ninguém poderá prever, mesmo sabendo que o Brasil é um país de um povo pouco ativo, pouco crítico, e muito mais voltado à acomodação e subserviência. Porém, se se pesquisar a história, facilmente se observará que os seus grandes momentos, sejam trágicos ou não, ocorreram em decorrência de um motivo pontual, isolado, como um pavio de uma vela que se acende pelo crepitar de uma distante fogueira.

O Supremo trouxe ainda para si os males do Legislativo: uma divisão política e ideológica que se escancara a cada nova sessão plenária. Os elementos da idiossincrasia jurídica, da fundamentação constitucional, da razoabilidade e do bom senso, são todos relegados a segundo plano e se submetem ao poder, às vaidades e a outras coisas mais…

Não irei adentar ao mérito, mesmo que este seja o desejo dos que me leem, perdoem-me! Já expressei minha opinião em outros artigos e não é aqui o momento de explorar nenhum pensamento de discórdia. Ao contrário, é preciso que frente à grave situação política, social e econômica pela qual passa o país, todos os brasileiros se unam, que coloquem acima de suas vontades o interesse coletivo, que reflitam sobre o que é mais importante para a sociedade, para a vida.

A Democracia, enquanto modelo ideal, pelo menos até aqui conhecido, deve prevalecer sempre, mas não se pode deturpa-la, não se pode abandoná-la, deixa-la relegada a uma situação de inferioridade, como se não importasse, como se fosse uma mera falácia. Ah! Falácia.

Não sei qual será a decisão do Supremo, até porque escrevo antes dela ocorrer, e assim o faço porque quero trazer uma reflexão apartidária, longe das ideologias e dos interesses pessoais e individuais, mas sei que, independente do resultado, o Poder Judiciário sairá perdendo. A Democracia sairá perdendo, assim como a sociedade, não importa o resultado.

Que sirva de exemplo! E a história serve para isso também. Para que as gerações vindouras aprendam com os erros e com os acertos daquilo que foi feito e vivido pelas passadas. O Supremo erra feio agora, qualquer que seja a decisão que tenha tomado sobre o caso em espeque. É como se tivesse se juntado aos comuns, como se o Direito fosse algo simples e retórico, como se o Direito fizesse parte de uma política que no Brasil se tornou espúria e odienta. Em verdade, a Suprema Corte brasileira perde a oportunidade de ser protagonista, sem necessidade de ter que sê-lo. E isto é algo para os grandes! Que pena que o Poder Judiciário tenha se apequenado tanto nesse episódio.

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A tragédia de Desdêmona e Capitu ou o perigo do fim da presunção de inocência

Em sua coluna “Embargos Culturais” no Conjur, de 25 de março de 2018, o professor Doutor Arnaldo Godoy, uma das maiores culturas literárias desse país, escreveu instigante texto com o tema: “O drama de Capitu, a suprema injustiça e a tragédia das condenações sem prova”. Em sua exposição, que trata da obra machadiana “Dom Casmurro”, aborda sobre o problema da discriminação histórica da mulher.
A condenação de Capitu seria um absurdo jurídico, segundo o texto, considerando que “…a acusada não se defendeu. Essa nulidade é insanável. O ofendido é, ao mesmo tempo, juiz, promotor, narrador, relator e revisor. Um julgamento sério de Capitu não passaria pelo labirinto da jurisprudência construída em torno do artigo 155 e seguintes do Código de Processo Penal atualmente vigente.”
Ao ler o artigo, imediatamente lembrei-me de Desdêmona, personagem Shakespeariano, da obra clássica Otelo, O Mouro de Veneza, escrita por volta do ano 1603. Em Otelo, tal qual Dom Casmurro, a história gira em torno de temas relevantes e discutidos até os dias atuais, como racismo, amor, ciúme e traição.
Em que pese tratar-se de situações e realidades distintas, Capitu e Desdêmona foram mulheres vítimas, havendo muitas semelhanças em suas condenações. Otelo creu na infidelidade de sua esposa Desdêmona e a assassinou a sangue frio. Ele também, Otelo, a julgou, a condenou e executou a pena. Tudo sem qualquer oportunidade de defesa, baseando-se apenas em uma armação engendrada por Iago.
Godoy conclui que “ao condenarmos Capitu, caímos na armadilha que Machado de Assis nos armou. Nos esquecemos que Capitu não se defendeu e que não teve defensores. É na sua naturalidade, que no fundo é uma inocência humana que todos deveríamos ter, até prova definitiva em contrário, que se extrai a força e o argumento de sua redenção. Não se pode condenar com base em um olhar. Ainda que esse olhar seja o mais enigmático e desafiador de toda nossa literatura.
Um final eloquente e que remete o leitor a profundas reflexões, especialmente na época difícil que se vive no Brasil, em que a Democracia encontra-se em crise, abalada pela desarmonia entre os Poderes da República e pelos embates intrapoder. Veja-se a discussão durante a sessão plenária do STF (21.03.18) entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
O grave é que a fragilidade democrática termina por malgastar as garantias democráticas, como a presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988, e que impede condenações antecipadas e precipitadas, e que os julgamentos serão realizados de forma justa e com respeito à dignidade da pessoa humana.
Ocorre também que a mitigação da força desse princípio, quando mitigada por uma abalada Democracia, ganha um status que vai ao perigoso senso comum, fazendo com que a sociedade, de forma irrefletida, passe a julgar e a condenar as pessoas, em prejulgamentos os mais absurdos, como se passou a ver nas redes sociais. As chamadas Fake News já superam a quantidade de notícias verdadeiras que são divulgadas e a todo o momento pessoas estão sendo massacradas e vilipendiadas injustamente.
Assim, as Capitus e Desdêmonas se multiplicam, trazendo as obras em referência para uma realidade que talvez supere a própria crueldade que elas estampam.Se isto não for eloquente o suficiente, como demonstrou o prof. Arnaldo Godoy em seu belo artigo, para alertar sobre o perigo de condenações precipitadas, sem defesa, tal como vem ocorrendo no dia-a-dia das redes sociais, nada mais pode ser. Talvez só quando incrédulos e descrentes forem vitimados pelo próprio veneno.
*Texto publicado originalmente na edição de 29 de março de 2018 do Jornal O Dia.
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As incongruências de uma nação esfacelada: o país do carnaval e do futebol!

Normalmente costumo dar título aos artigos após escrevê-los, o que é natural, considerando que os pensamentos vão se desenvolvendo e se delineando ao longo do texto, muitas vezes tomando caminhos outros que os pensado inicialmente. Neste, todavia, já saí logo com “as incongruências de uma nação esfacelada…” encabeçando. Reputei fácil escrever sobre esse tema que me surgiu após algumas leituras prévias de textos do ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, publicados na revista Carta Mensal da Confederação Nacional do Comércio – CNC. As incongruências no Brasil, porém, para um observador mais atento, estão expostas às escâncaras e algumas são históricas, se repetem, e não se vê luz que aponte para o fim das mesmas.
Por exemplo: riqueza x pobreza. Ora, na maior parte do mundo sempre houve e continuará a existir essa dicotômica relação e isto não se caracteriza como uma incongruência per si, pois diversos fatores têm influência nessa diferenciação social e econômica. Este não é o ponto que quero abordar.  A questão fulcral, assim, não é a dualidade (ricos e pobres), mas o distanciamento, o afastamento, o abismo cada vez maior que os separa e que avança sem freios nem paliativos.
A incongruência aqui apontada, desse modo, não está no fato de existirem ricos e pobres, mas sim no fato de se permitir que isto se acentue cada vez mais, ao invés de se buscar diminuir a distância que os separa, especialmente quando estamos em um país onde ainda é possível se encontrar milhões e milhões de reais em cédulas dentro de malas em uma sala de apartamento, oriundos de propinas e corrupção. De um país que possui terras férteis e água abundante como nenhum outro, em um país que se arrecada em poucas semanas (em apostas da loteria) mais do equivalente a um milhão de reais por brasileiro (pode incluir os brasileiros que estão nascendo enquanto alguém lê este artigo).
A incongruência se exacerba quando milhares de pessoas vivem nas ruas, sem moradia digna e outros tantos morrem à míngua nos hospitais públicos. Quando o índice de analfabetismo é gritante a educação é um faz de conta para inglês ver ou mesmo quando a violência passa a dominar o Estado a ponto deste não saber como combatê-la, com pessoas morrendo diariamente vítimas de latrocínios e homicídios.
Já que toquei no tema da educação, facilmente posso citar outra incongruência, desta feita colhida dos dados do ex-ministro da Fazenda acima referido, onde informa que no Ministério da Educação o número de funcionários aumentou de 188,4 mil em 2008 para 288,3 mil em 2016, tendo os gastos orçamentários, em termos reais, uma expansão de 95% em oito anos. A incongruência que me refiro não está no aumento de pessoal ou de gastos, mas no fato de que Brasil há aproximadamente dois milhões de jovens que nem trabalham nem estudam e mais de um milhão de menores de 17 anos que não estão na escola.
A incongruência está ainda no fato de que, segundo levantamento da OCDE (Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico), 43,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 16 anos que estão na escola declararam exercer algum tipo de trabalho remunerado em suas rotinas. Na Coréia do Sul, esse índice é de apenas 5,9%!
Se ainda não bastasse, os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), mostram uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática, sendo que o Brasil caiu no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. E o que dizer se o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo?
Infelizmente, muitas são as incongruências que poderia citar e como disse no início seria fácil, o que comprova o esfacelamento da nação. O mais importante, porém, é observar que em um país com tantas incongruências, em um ano que o povo irá mais uma vez às urnas, os debates continuem a se dar longe do que efetivamente importa. Promessas gerais, abstratas e falaciosas devem ser a tônica das campanhas eleitorais, enquanto o país continuar a replicar suas incongruências (já crônicas), longe de se realizar um debate profundo sobre os problemas, suas causas e eventuais soluções.   Mas e daí? Afinal, o Brasil é ou não é o país do carnaval e do futebol? E ainda é janeiro e a copa do mundo da FIFA em junho. É, tive que acrescentar algo mais ao título, como se viu!
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A tragédia política no Brasil

A política é algo de grande complexidade e é por isso que filósofos, sociólogos, economistas e juristas, para citar apenas estes, têm produzido ao longo da história antagônicos debates, muitas vezes recheados de falsos conceitos e premissas, mas sempre fiéis às suas respectivas razões que, por sua vez, estão quase sempre permeadas pelas paixões e ideologias. Eis o problema, eis o lado ruim da política!
Já tenho dito que enquanto prevalecerem os interesses pessoais em detrimento do bem comum, as decisões políticas sempre serão equivocadas e a maior prejudicada será a sociedade a quem são dirigidas tais decisões. Saltam a olhos vistos os debates entre políticos sobre interesses da sociedade onde estes mesmos interesses ficam relegados ao segundo plano e onde sequer são objetos de uma verdadeira análise. Em verdade, a discussão gira mais sobre apoios políticos e trocas (muitas delas espúrias) de votos por emendas ou cargos. Basta observar o que ocorreu com a (falsa) reforma política, a reforma trabalhista e a tentativa de reforma da previdência no Brasil.
A questão também é que os políticos não perceberam que caminham sobre o fio da navalha e que estão à beira de um precipício. Afastaram-se demais do ideal Democrático e do Estado de Direito. Em troca do poder entregaram o país ao banditismo, à corrupção e às drogas, vindo as mazelas sociais como consequências desse abandono.
Hoje não sei em que tipo de Estado vivemos, mas também isto não importa quando se está em uma guerra social. Que o diga a Venezuela! E não é por menos que cerca de oitocentos venezuelanos atravessam diariamente a fronteira para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Um perfeito paradoxo, não fosse o Brasil um país Continental. Se a fronteira brasileira fosse o Estado do Rio de Janeiro, penso que a história seria outra.
De fato, o Rio está em guerra, não apenas a social, mas também em guerra no sentido literal da palavra. Seria interessante utilizar o Rio como modelo, transformá-lo em uma miniatura de Brasil e ver o que a política de lá fez com a Cidade Maravilhosa, com o País do Futuro. Guardadas as proporções, o que ocorre lá não é diferente do que ocorre no restante do Brasil. Talvez lá a história esteja apenas um pouco mais avançada.
A História tem demonstrado, ademais, que todas as guerras, revoltas ou revoluções que ocorreram no passado, sempre iniciaram em algum lugar específico, nunca foram deflagradas coletivamente.
O problema da política tem sido os homens que a fazem e não ela em si, até porque somente a própria política pode resolver os problemas sociais, mas não os mesmos homens.
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A Lei de Adaptação aplicada ao Mercado: o caso dos Táxis e dos Sindicatos

Segundo Gonzalez Pecotche, “adaptar-se é, pois, preparar dentro de si as condições adequadas para que o equilíbrio normal da vida perdure sem modificação, ainda que se modifique a vida tantas vezes seja necessário e o reclamem as circunstâncias.” A adaptação, como ensina a Logosofia, é uma das tantas Leis Universais que existem e como tal, seguindo os princípios que regem este conjunto de Leis, é inexorável e inexpugnável. A Lei de Adaptação pode e deve ser aplicada em todas as circunstâncias que abarquem a vida do ser, seja no ambiente de trabalho, seja em sua vida de relação. Não compreender a atuação dessa Lei implica consequências às mais graves.

Pecotche ensina ainda que, “se aconteceu um fato que obriga a um câmbio, permanecer no mesmo estado ou condição equivale a viver à margem da realidade e, portanto, a sofrer intensamente.  Isto é o que sempre acontece quando o homem resiste aos câmbios: daí que brotem por toda parte a dor, as misérias, as angústias, e seja o sofrimento um visitante quase permanente nos corações humanos.”

Quando se pensa no mercado produtivo, seja no âmbito do comércio ou da indústria, por exemplo, é fácil compreender a imposição às mudanças, ou seja, à adaptação. De fato, as tendências de consumo, a inflação, a queda da taxa de juros ou a desvalorização da moeda, impõe que as empresas estejam em constante adaptação se quiserem sobreviver em um ambiente tipicamente competitivo.

Darwin vaticinara, há séculos, que não era o mais inteligente e tampouco o mais forte o que iria sobreviver, mas justamente o que melhor se adaptasse. Claro que o referido cientista estava tratando da evolução das espécies na natureza, mas quem seria melhor que a própria natureza para ensinar o homem?

Há algum tempo presenciado o surgimento do Uber, empresa detentora, hoje, do maior mercado de prestação de serviços de transporte de passageiros do Mundo, e isto sem ser proprietária de um veículo sequer. O Uber, uma novidade no mercado de transporte, coloca em risco a sobrevivência do táxi, modelo secular de transporte de passageiros que até então dominava o mercado. O Uber representa um claro perigo aso taxistas, a ponto de colocar em risco a existência da própria profissão de taxista.

Ao que parece, os táxis dominavam o mercado e, sem concorrência, não se forma se adaptando às próprias exigências naturais de um consumidor cada vez mais exigente e consciente de seus direitos. Quem não tiver alguma queixa contra os táxis que atire a primeira pedra!

Outro exemplo diz respeito às novas alterações na legislação trabalhista no Brasil. É que a Contribuição Sindical, antes compulsória, com a reforma estabelecida pela Lei 13.467/2017, ganhou um novo status e os trabalhadores precisam agora voluntariamente contribuir. A princípio, não deveria ser problema algum, afinal os trabalhadores beneficiários do trabalho dos sindicatos deveriam ter interesse em fazer essa contribuição.

Todavia, se observar que das vinte ações contra a nova lei, ajuizadas no STF, quatorze tratam justamente sobre o fim da compulsoriedade, verifica-se que a coisa não é bem assim, já que os autores dessas ações, Federações e Confederações de trabalhadores, argumentam que a manutenção da referida alteração implicará no fim dos sindicatos.

Seguindo o mesmo aspecto da Lei de Adaptação, acima explicitado, e em face à unicidade sindical existente no Brasil, percebe-se que o “mercado de trabalhadores”, dominado pelos sindicatos, com o fim da compulsoriedade, precisa urgentemente adaptar-se. Antes tarde do que nunca, diz o ditado popular!

Percebe-se que nem os táxis e tampouco os sindicatos foram capazes de perceber as mudanças, as situações novas. Não foram hábeis para sentir o mercado que os mantinham, negligenciando nas necessárias adaptações que se impunham. Talvez agora já seja tarde demais.

Os aplicativos como Uber já se proliferam e o próprio Estado já reconhece a legitimidade dessa nova atividade. Quanto aos sindicatos, estes ainda veem uma luz no fim do túnel nessas ações junto ao STF, a quem caberá a última palavra.

O certo, seguindo esta linha de raciocínio, é que a Lei de Adaptação, mais uma vez citando Pecotche, “é tão inflexível que não admite meio termo entre uma e outra situação: cambia-se ou não se cambia.”

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A Constituição retórica e o seu fracasso! (Parte 2)

Semana passada iniciei algumas reflexões sobre os 30 anos da Constituição Federal do Brasil, completados no dia 05 de outubro próximo passado e que foi motivo de celebração por todo o país. Finalizei o artigo aduzindo que não havia o que se comemorar, considerando que os fundamentos da própria Constituição não eram sequer observados. Por isso a alcunhei de Constituição retórica. É que os 30 anos mostravam menos o sucesso da Constituição do que o seu fracasso.

Ontem, corroborando com o meu pensamento, que em verdade traduz apenas uma realidade triste que está aí, infelizmente, exposta às escâncaras, o IBGE divulgou que em 2016 havia no país 52,8 milhões de pessoas em situação de pobreza no país, tendo  aumentado para 54,8 milhões em 2017, o que representa 26,5% da população total do Brasil. A população na condição de pobreza é de rendimento inferior a US$ 5,5 por dia, o que corresponde a aproximadamente R$ 406 por mês.

A pesquisa divulgada pelo IBGE vai mais além. Quanto à linha de pobreza extrema, que corresponde a quem dispõe de menos de US$ 1,90 por dia, o que equivale a aproximadamente R$ 140 por mês, a população aumentou de 13,5 milhões para 15,3 milhões no mesmo período.

O mais agudo do meu argumento tem por fundamento a própria Constituição, que em seu artigo Art. 3º, III, da Constituição de 1988 estabelece como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a erradicação a pobreza e da marginalização, bem como a redução das desigualdades sociais e regionais. Observa-se, pelos números divulgados pelo IBGE, que se está muito longe, mesmo passados 30 anos, de se atingir estes nobres objetivos. Como, nessas condições, não reconhecer que a Constituição Federal de 1988 travestiu-se de mera retórica?

O ponto nevrálgico, e já fiz algumas referências no artigo anterior, é que a culpa pela retórica da Constituição não é dela, até porque a Constituição, apesar de escrita, para ganhar vida, para ser implementada, necessita de homens e mulheres comprometidos e dispostos a fazer com que os comandos contidos no texto extrapolem o mero conteúdo linguístico e ganhem expressão fática e real na sociedade que ela (deve) regulamenta(r). Se isso não ocorrer, efetivamente, a Constituição não passará nunca de uma mera retórica, de uma falácia que serve apenas de enfeite para Inglês ver.

Por isso finalizei o artigo anterior afirmando que não precisa(va) ser assim. É que se as pessoas que estavam obrigadas a fazer cumpri-la tivessem implementado os seus comandos, fundados em seus princípios e buscando atingir os objetivos nela consubstanciados, não apenas a Constituição seria outra, mas a própria sociedade, o Brasil mesmo seria outro, não tenho dúvidas, e os dados divulgados pelo IBGE teriam outra natureza e expressividade. Aí sim, haveria o que ser celebrado pela passagem de seus 30 anos.

O certo é que enquanto a Constituição não for efetivamente cumprida, nada se poderá comemorar. Haverá apenas a retórica falaciosa de seus belos objetivos e o choro ao fundo de uma sociedade cada vez mais pobre e desigual.

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O individualismo e a autofagia humana

A crise financeira abala o mundo: direitos sociais desatendidos, desemprego, fome e miséria. Alia-se a esse cenário a destruição do meio ambiente: a possibilidade da própria garantia de sobrevivência futura! Mas e daí? O individualismo impede que se pense em gerações futuras: elas que encontrem um jeito de sobreviver nesse (resto de) mundo que vai ficar para elas. Que fiquem sem água, que respirem o ar poluído e que se intoxiquem com os produtos cancerígenos que são lançados no ar, nas plantações e nos produtos industrializados. Mas o que fazer? E alguém quer fazer alguma coisa? Parece que não!
Para se resolver um problema é necessário identifica-lo, ou melhor, reconhece-lo; para reconhece-lo é preciso enxerga-lo, mas para isso faz-se necessário querer. Porém, quanto já não se tem falado sobre isso tudo? Para que mais alertas? Estes, às escâncaras vêm sendo divulgados pela mídia e pelos estudiosos e cientistas. A história também assim o demonstra. Jared Daimond em sua obra “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso” aponta como civilizações antigas deixaram de existir. O livro parece uma crônica de um fim que se pode enxergar em um futuro não muito distante. Assim, nem o jargão que diz que a história se repete, já com status de axioma, tem sido o bastante para alertar a humanidade.
Se nada disso (mídia, cientistas e história) ainda é suficiente para se enxergar a grave situação mundial, a própria natureza também dá clara demonstração desse processo de destruição, pois vem reagindo de forma cada vez mais dura. É a forma que encontra de dialogar com o homem, mas este parece não compreender essa linguagem tão clara e tão contundente. Os homens, com a visão empanada pelo egoísmo e pelo exacerbado individualismo, mesmo já sofrendo as consequências, parecem não sentir a realidade e tampouco a necessidade de realizar mudanças profundas em seu comportamento.
Aí está o início de uma possível solução: mudança de comportamento! Mas só se transforma o comportamento das pessoas através da educação. E aqui já não adianta mais uma educação comum apenas. É preciso uma educação superior, de outra índole, que cultive as virtudes, o ser, e que não se deixe corromper pela necessidade do ter. Este jamais poderá ser o fim, pois se assim o for se estará invertendo os valores, os verdadeiros valores.
É preciso que se tenha uma consciência do coletivo, pois do contrário o individualismo que se cultua hoje poderá ser o mesmo que conduzirá a humanidade a seu fim, numa autofagia assustadora que a história já comprovou ser plenamente possível.
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O analfabeto político ou cada povo tem o governo que merece

Cada vez mais temos visto a importância do voto. O brasileiro precisa compreender que é através do seu voto que as decisões mais importantes para o país são tomadas, mas parece que esta compreensão ainda é uma realidade distante. Uma pena, todavia!
É preciso entender que ao escolher o Presidente da República, por exemplo, também se está escolhendo o seu vice, o seu substituto legal que, em caso de impedimento daquele, este assumirá o cargo, como ocorreu com Dilma Roussef e Michel Temer. Da mesma que quem vota em um determinado Senador automaticamente também está votando em seu suplente.
Ao votar em alguém, na verdade, significa que se está outorgando uma procuração para que aquela pessoa escolhida possa agir em seu nome. Assim, quando o presidente  Michel Temer escolhe um Ministro do STF, ele está escolhendo em nome de todo o povo brasileiro, em especial daqueles que lhe elegeram. O presidente está exercendo todas as prerrogativas que lhe foram concedidas pelo povo, entre elas a de escolher os Ministros que ocuparão a maio corte de justiça do país. Estes exemplos servem para todas as esferas políticas executivas, prefeitos e governadores.
Devemos observar, ainda, que ao escolher nossos representantes (Vereadores, Deputados Estaduais e Federais) estamos concedendo-lhes um mandato, ou seja, uma procuração para que atuem em nosso nome, no cumprimento de suas funções, sendo deles que são elaboradas as maiorias das Leis que regem a nossa vida em sociedade.
Não é à toa que a frase “cada povo tem o governo que merece”, pronunciada há mais de 200 anos pelo filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821), se referindo à ignorância do povo que, segundo o autor, deveria ser responsabilizado pela escolha dos maus representantes.
O que o referido filósofo entendia era que se as Leis são ruins, a culpa é do povo que elegeu mal seus representantes, os que as elaboraram. Se as políticas públicas não são adequadas e nem mesmo efetivadas, a culpa é do povo que não soube escolher representantes capazes de implementar benefícios sociais à população.
Dessa forma, antes de reclamarmos das decisões de nossos políticos devemos refletir sobre as escolhas que tomamos nas urnas. Pois delas advém tudo o que acontece no país.
Atualíssimo o texto “O analfabeto Político” do dramaturgo alemão  Bertolt Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
2017 começou
E, finalmente, eis que o ano legislativo começou! E como no Brasil (quase) tudo gira em torno de política, a última semana foi marcada pelas eleições para presidência do Senado e da Câmara. Na primeira, com a eleição de Eunício Oliveira (PMDB/CE); e na Câmara, com a reeleição de Rodrigo Maia (DEM/RJ), substituto de Eduardo Cunha em um mandato tampão que lhe rendeu mais 2 anos à frente da Casa. Os desafios dos dois são mais que políticos, são Institucionais, considerando que a crise de imagem por que passa a classe política brasileira acaba atingindo todo o Congresso.  E cada presidente, à sua maneira, diz o que vai fazer para mudar (ou ao menos amenizar) essa situação.
Palavra de Eunício Oliveira:
O presidente do Senado destacou a importância do Parlamento na busca de um diálogo coletivo para assegurar o retorno do crescimento e do desenvolvimento do Brasil. “A confiança em nossas instituições só será conquistada com a retomada do diálogo entre governo, partidos, entidades sindicais, empresários e sociedade civil organizada”.
Palavra de Rodrigo Maia:
Para o presidente da Câmara, a saída do Brasil da crise passa pelas reformas política, trabalhista e previdenciária. Além disso, Maia também defende a discussão de um novo pacto federativo, diante das dívidas dos estados e municípios.
Alexandre, o Grande!
Ainda sobre política, a notícia da última semana foi a indicação do presidente Michel Temer de Alexandre Moraes para assumir a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) deixada pelo ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo no dia 19 de janeiro. Tal escolha causou impacto na opinião pública. Além de ministro do governo Temer, Alexandre de Moraes será o revisor da Lava Jato no plenário do Supremo. Isto significa que ele poderá atuar em casos envolvendo o presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado e vários outros nomes de políticos citados na delação da Odebrecht. Só o presidente, diga-se, foi citado 43 vezes na delação.
Alguém duvida que 2017 será um ano, no mínimo, surpreendente?
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A diferença entre a Empresa e o Mercado: é preciso separar o joio do trigo!

Há que precisa ser esclarecido no tangente à atividade empresarial: é a diferença entre a Empresa e o Mercado. De fato, a Empresa, pelo próprio conceito estabelecido pelo Código Civil brasileiro significa atividade e são destas atividades comerciais, industriais e/ou de serviços que sobrevivem, que pagam seus empregados e impostos, assim como fornecedores de produtos e/ou serviços. O Mercado, ao contrário da Empresa, alimenta-se da especulação financeira, baseada na liberdade irrestrita e ilimitada da circulação de capitais.
Na verdade, o Mercado terminou por sobrepujar-se à Empresa, à atividade. O Mercado representa a vitória do capital financeiro sobre o capital produtivo. Para o Mercado não há soberania, não há fronteiras geográficas, não há limites nem barreiras.
É preciso diferenciar, dessa forma, a Empresa enquanto atividade. No Brasil, as micro e pequenas empresas representam 93,4% da totalidade de empresas existentes, gerando empregos formais e produzindo riqueza para o país. Estas empresas não especulam, sobrevivem, na verdade, suportando elevada carga tributária e pagando juros altíssimos em seus empréstimos feitos no Mercado financeiro, o especulador. A empresa, dentro do sistema econômico brasileiro, é imprescindível.
Não são as empresas as que geram as crises, mas sim a política econômica ou cambial do Mercado. A questão é que o Mercado nunca se apresenta como o algoz causador das crises, mas sempre exsurge como o herói salvador.
Nessas crises, também urge que seja observado que as soluções que o Mercado encontra sempre as classes menos favorecidas são as mais sacrificadas, além das próprias empresas que não se alimentam dele, mas sim de suas atividades.
É preciso frisar que em nenhum momento deixa-se de reconhecer a essencialidade da economia capitalista para o desenvolvimento político, econômico e social, bem como a importância fundamental do Mercado nesse contexto. Não se pode confundir, porém, o Mercado, enquanto agente impulsionador da economia capitalista, e o que se caracteriza por uma Ideologia preocupante.
É preciso ser feito esta diferença, até para que não haja injustiças com os empresários, estes sim, bravos guerreiros que enfrentam com luta, suor e lágrimas as agruras provocadas pela Ideologia do Mercado Especulador.
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