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Em como a tragédia dos comuns pode se tornar na tragédia dos homens

Estamos vivendo um momento crucial na história da humanidade, como já tenho assinalado em outras oportunidades. E é fato inconteste que, em que pese o tamanho do planeta Terra, parece não haver espaço para toda a população e tampouco alimentos. Que o digam os milhões de pessoas que têm migrado em busca de melhores condições de vida, de um espaço onde possam viver em paz e com dignidade. Outros tantos passam por necessidades extremas e, em situação de miséria, vivem em condições de degradação humana.

Em 1968, há quase 60 anos, na revista Science, o biólogo Garrett Hardin publicou pequeno ensaio intitulado “The TragedyoftheCommons” (A Tragédia dos Comuns), expondo o risco da exploração livre de um recurso natural finito. Hardin explica que se as pessoas passarem a utilizar individualmente um recurso em benefício próprio, sem pensar coletivamente, ou sem qualquer tipo de controle, o bem terminará por ser extinto, impossibilitando a continuidade de produção e o aproveitamento do recurso por todos. Parece óbvio, por certo! Se a pesca é livre, por exemplo, e é exercida de forma indiscriminada e sem regulamentação qualquer, se tornará predatória e em face da sobre pesca, algum tempo futuro, não haverá peixes.

Mutatis mutandis, a obviedade da análise inicial se torna bastante complexa quando, em um cenário de globalização, o consumo torna-se desenfreado, as fronteiras geográficas se abrem e os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos.

Veja-se, para citar apenas alguns exemplos,o problema das águas, com a superexploração de aquíferos e desperdício de água, aliada à falta de chuvas e o excesso de utilização de energia elétrica por uma superpopulação;a extração predatória de madeira; queima de combustíveis fósseis e consequente aquecimento global; e a destruição de habitats e a caça clandestina e predatória de diversos animais, como a de baleias pelo Japão.

Seria a desglobalização uma alternativa? O fenômeno da globalização, tão decantado na década de 1980 como uma nova ordem que solucionaria os problemas mundiais, especialmente de natureza social e econômica, teria fracassado? O vaticínio de Hardin em sua tragédia dos comuns estaria se concretizando? Por certo que não há respostas claras e concretas para estas perguntas, sendo importante, todavia, se debater sobre elas, sem ignorar que os problemas apontados fazem parte da ordem do dia, sob pena da tragédia dos comuns se tornar na tragédia dos homens, e isto ninguém, com razoável bom senso, pode desejar que ocorra!

*Texto publicado originalmente na edição do dia 07 de dezembro de 2017 do Jornal O Dia.

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O Brasil de amanhã continuará a ser o Brasil de ontem, ou não!

Sempre critiquei a nomeação de Secretários de Estado e de Ministros, em troca de apoio político nas Assembleias Estaduais e no Congresso. Entendo que seja um ilegal exercício da Democracia por ferir princípios éticos basilares e a própria vontade popular nas urnas, que vê candidatos eleitos para mandatos legislativos passarem a compor pastas no Executivo. E o que é pior, candidatos que não obtiveram votos suficientes, passam, com essa troca, a ocupar postos no Legislativo.
Essa troca é tão espúria e absurda, que tão logo chega o prazo estabelecido pela legislação eleitoral para a desincompatibilização, o Executivo se desfigura. É que os políticos nomeados Secretários e Ministros deixam suas funções para disputarem as eleições. E a decantada Reforma Eleitoral nada reformou, pois tudo continuará como sempre esteve. Triste vaticínio!
Em verdade, as Secretarias e os Ministérios têm o condão de funcionarem como trampolim político, como fortíssimos cabos eleitorais de seus comandantes, ao invés de se articularem como elementos de administração necessários à condução do Governo em prol da sociedade. As escolhas para pastas tão importantes como as Secretarias e Ministérios são feitas, quase sempre, por interesses político-partidários e pessoais, não por projetos de governo ou alinhamento de ideias, tampouco por análise de competências.
Mas isto tudo é tão comum no Brasil!
Aí é que reside o problema! O brasileiro aprendeu a se acostumar com o errado, com o famigerado “jeitinho”, com a política de compadrio e de espuriedade, da mesma forma que se acostumou com a violência urbana, com mortes violentas ocorrendo a todo instante, em todos os lugares. O brasileiro acostumou-se com o descaso para com a saúde e educação, assim como para com o desemprego.
O brasileiro é adaptável a tudo o que está errado, afinal, amanhã, tal qual uma dança das cadeiras, estes mesmos nomes estarão novamente ocupando suas pastas em Secretarias e Ministérios, de volta ao lar, para mais um período de repetição de tudo o que está aí, desde muito tempo. E assim, o Brasil de amanhã continuará a ser o Brasil de ontem!
Como dizia meu saudoso pai em sua grande sabedoria popular: Deus permita que eu minta!
Todavia, enquanto houver voz, ruas, imprensa livre, urnas e acima de tudo coragem, haverá esperança! E é por isso que é preciso pensar muito e pensar bem. Pensar no futuro das gerações vindouras, naquilo que está sendo construído para elas. Refletir sobre as escolhas que serão feitas, nos caminhos que precisam ser seguidos, para que pelo menos aquelas gerações possam ter um exemplo e possam viver em um país melhor, em um mundo melhor e possam saber que a geração de hoje colaborou para a construção desse lugar de amanhã.
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O desrespeito às instituições é o primeiro passo para desmoroná-las

Estamos em um período muito perigoso de nossa recente história democrática. Ou seja, mal iniciamos uma Democracia, que ainda não se firmou com a necessária agudeza e firmeza, já a colocamos em risco.
De fato, os poderes legalmente constituídos, em que pese estarem atuando com base nos princípios democráticos, constitucionalmente estabelecidos, sofrem uma terrível crise de identidade, e na busca por mais poder terminam se digladiando entre si. E dessa forma, essa carência de afirmação institucional vai, tal qual um câncer, corroendo as suas entranhas, as que lhe dão sustentação. Ocorre que estes mesmos poderes são os que legitimam a própria Democracia!
Quando a Constituição Federal estabelece em seu artigo 2º que os Poderes da União (Legislativo, o Executivo e o Judiciário) são independentes e harmônicos entre si, expressão que tem sido objeto de tanta controvérsia e debate entre juristas, mesmo diante de uma singularidade e clareza solar, ela quer explicitar que referidos Poderes são as pilares de sustentação da própria União. Afinal, é através destes Poderes que a União se manifesta, se faz presente em nome do Povo, que é de onde emana todo o poder.
Quer dizer mais, o referido artigo 2º: quer dizer que estes Poderes devem estar irmanados em um único objetivo, a própria manutenção do Estado Democrático de Direito, com todos os direitos nele constituídos em favor dos seus cidadãos. E é por isso mesmo que, em harmonia, devem laborar na busca incessante de concretiza-los. E este é o ponto crucial dessa sucinta reflexão.
O Povo, que é o verdadeiro “dono” do Poder numa Democracia, quando vê que as instituições que deveriam lhe servir, ao contrário, em dissonância com o estabelecido pela Constituição, passam a disputar espaço e poder, muitas vezes em total desrespeito uma para com a outra, ou até mesmo internamente, e não conseguem dar cumprimento às suas funções, termina por desacreditar nelas (instituições) e também a desrespeitá-las.
Quando o próprio Povo não mais acredita em suas instituições, quando o descaso e o escárnio passam a fazer parte do sentimento de cada um e de todos, a Democracia incipiente, fragilizada, tal como um gigante vazio, pode tombar irremediavelmente.
As redes sociais e a imprensa comprovam tudo isto, e não é raro ver e o ouvir os achaques em face destes Poderes. Como isso, os problemas sociais avançam, a violência toma conta do País e o Povo sofre, justamente o “dono” do Poder. Numa incongruência indizível!
O desrespeito às instituições é o primeiro passa para desmoroná-las ou, quiçá, o último! Eis o nosso vaticínio! Um risco à democracia.
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O Legislativo que não sabe legislar, a culpa in eligendo e a importância do voto!

Segundo o artigo 1º da Constituição Federal de 1988, o Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito, tendo o artigo 2º estabelecido que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. É certo, porém, que a independência desses poderes não é absoluta, encontrando limites estabelecidos na própria Constituição, sendo permitido fazer apenas aquilo que ela (Constituição) determinar. Ao Poder Legislativo cabe, dentre outras funções, fazer as Leis que devem reger a vida em sociedade, estabelecendo condutas, direitos e deveres, mas respeitando sempre os limites e determinações da Constituição Federal. Assim, nesse sistema de democracia constitucional, ao Supremo Tribunal Federal – STF cabe precipuamente a guarda da Constituição, devendo zelar para que as eventuais Leis que venham a ser criadas não a contrariem.

Em levantamento realizado pelo Anuário da Justiça sobre o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) pelo STF em 2017, de cada dez leis analisadas, oito delas foram declaradas inconstitucionais, parcial ou totalmente. Os vícios que culminaram com as inconstitucionalidades são principalmente os que dizem respeito à forma com que foram editadas, mas muitas também têm relação com o conteúdo. Em fevereiro de 2018, de acordo com dados do STF, havia 2.040 ADIs em tramitação na corte, pasme!

É preciso observar que o STF não age de ofício, ou seja, só declara a inconstitucionalidade de uma lei se for provocado, na forma do que também estabelece a Constituição Federal, sendo possível, pois, que existam inúmeras inconstitucionalidades não declaradas pelo país, considerando que há ainda as assembleias legislativas estaduais e câmaras municipais fazendo leis todos os dias, isso sem contar a competência legislativa no âmbito dos governadores de estado e de prefeitos municipais.

A reflexão que fazemos, aqui, se relaciona com a habilidade dos legisladores brasileiros de fazerem leis, afinal como se conceber uma estatística negativa tão elevada no âmbito do Poder Legislativo, quando cada senador, deputado federal, estadual ou vereador conta em seus gabinetes, uns mais outros menos, com uma plêiade de assessores e com toda uma estrutura das casas legislativas, formadas por profissionais das mais diversas áreas, prontos para emitirem pareceres, orientações técnicas, enfim.

Se esses legisladores fossem empregados de uma empresa privada por certo muitos já estariam desempregados, seja por produzirem pouco, seja por produzirem mal ou equivocadamente, como por ocasião da elaboração de leis inconstitucionais. A questão, todavia, é que enquanto empregados do povo, foram escolhidos através das urnas, não tendo como demiti-los por incompetência, tal qual ocorreria se se tratasse de algum empregado qualquer.

Ainda trazendo a empresa privada como analogia, se um empregado no exercício de sua atividade causar dano a terceiro, a empresa será responsável pela indenização, não interessando a qualidade do empregado contratado, considerando ser problema da empresa se contratou mal. É a chamada culpa in eligendo ou simplesmente culpa pela escolha. À empresa fica a possibilidade de imediatamente demitir o empregado que não agiu bem!

Quando o povo escolhe mal seus governantes e estes agem mal, legislando sem observar sequer as regras de legislação, a culpa in eligendo atua perfeitamente também, e o povo arca com os prejuízos que são causados pelo legislador, mas diferentemente do que ocorre na iniciativa privada, o povo não tem como demitir o mau legislador imediatamente. É que a demissão só poderá ocorrer nas urnas, de quatro em quatro anos.

Não se pode esquecer que uma lei mal feita pode trazer sérios e graves prejuízos, inclusive e especialmente prejuízos sociais. Leis podem retirar direitos conquistados, usurpar competências, fechar escolas ou hospitais. São variadas as consequências, sendo essencial que o povo as compreenda efetivamente.

Defendemos que o povo tenha o direito, tal qual ocorre na iniciativa privada, de demitir aquele político que uma vez eleito não corresponda às expectativas. Seria importante fossem fixadas metas aos eleitos, fossem analisadas as propostas das campanhas e cobradas o cumprimento delas.

Eleger não pode significar um cheque em branco, uma procuração com poderes absolutos, muito menos a impossibilidade de revoga-la tão logo seja preciso.  Da mesma forma as urnas não podem ser um escudo de proteção, um colete à prova de tudo, inclusive em face do povo, que em verdade é (deveria ser) o verdadeiro dono do Poder, afinal é a própria Constituição Federal que estabelece que todo o poder emana do povo.

Nesse diapasão, o povo deve compreender que ao escolher legisladores ruins está assumindo uma responsabilidade muito grande, da mesma forma que uma empresa que contrata um empregado negligente ou incompetente, com a diferença de que o empregado pode ser demitido a qualquer tempo.

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A greve dos caminhoneiros é apenas mais uma gota no copo chamado “condução da política no Brasil”

Engana-se quem pensa que a situação vivida nos últimos dias pelos brasileiros decorre da greve dos caminhoneiros. Pensar assim é fazer uma análise muito estreita da situação, é enxergar apenas um dos aspectos do verdadeiro problema, que em verdade é macro, indo muito além da revolta de uma classe de trabalhadores. Em verdade, a greve dos caminhoneiros representa uma das gotas que se somou a tantas outras já existentes no copo chamado “condução da política no Brasil”.
Efetivamente, os erros cometidos pelos que estão no comando político do país ao longo deste século, que não chegou sequer ainda ao seu primeiro quarto, já comprometem metade dele, ou seja, nem nos trinta anos seguintes se conseguirá resolver os problemas que foram criados por uma administração pública inescrupulosa, sem ética e sem espírito público. Ao contrário, os políticos no poder, em sua maioria, são individualistas e estão preocupados unicamente com o próprio bem estar. Ouso afirmar, mesmo sem um estudo ou uma base estatística aprofundada, mas tamanho o abismo social existente, que os direitos sociais de algumas gerações já estão comprometidos,pois não terão como ser atendidos, já que não haverá recursos financeiros disponíveis para investimentos nessa área, que historicamente sempre é a mais sacrificada. Neste caso, os índices comprovam sobejamente esta última afirmação, bem como a própria realidade caótica estampada na educação, na saúde e na segurança, enfim.
A greve dos caminhoneiros, todavia, teve o condão de mostrar ao Brasil a imensa interligação que há entre todos os setores que compõe a tessitura social de um país, mas penso que três foram os principais aspectosa se destacar.O primeiro foi o de mostrar à sociedade a sua própria força, a importância de suas profissões, seja qual for, e a dependência que se tem uns dos outros.O segundo, mas não menos importante, foi mostrar também como um governo pode ser questionado sem violência, sem vandalismos e organizadamente, enquanto o terceiro aspecto foi o de dizer ao governo que esse modelo político está ultrapassado e precisa ser urgentemente modificado. Talvez esta última seja a maior lição.
A reclamação contra o preço do combustível foi apenas a faísca que se utilizou para acender o estopim que a cada dia crescia mais e mais, e ainda cresce. Os governantes não podem mais se sustentar encastelados em seus gabinetes, refestelando-se com a coisa pública, como se vivesse ainda na Idade Média reinando em algum Estado absolutista, afinal o parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 estabelece expressamente que “Todo o poder emana do povo…”.
A greve dos caminhoneiros, à medida que o estopim avança, vai tocando nas demais gotas e as despertando da letargia que até certo ponto é natural na cultura do povo brasileiro eesse movimento poderá ser a pedra de toque capaz de fazer gerar uma energia cinética com consequências muito mais graves do que as que até então foram provocadas. A conscientização do poder do povo pelo povo, tal qual como previsto constitucionalmente, pode ser um marco muito mais importante que a existência da própria Constituição em si.
Disse que até a metade desse século os problemas sociais do Brasil não estarão resolvidos, mas faço uma ressalva, abro uma exceção, ao tempo que faço mais um alerta. Um trabalho sério, voltado diretamente para a educação, para o ensino de qualidade, integral, que preze pela ética, pelo culto aos valores morais e levados, pelo civismo, pelo amor à pátria e afeto ao próximo, é a única forma de desviar a rota do abismo iminente e de se salvar a segunda metade do século. Dito a exceção, faço o alerta: se esse trabalho não for iniciado o quanto antes, o tempo não perdoará e para cada dia perdido hoje se terá fatalmente um dia perdido no amanhã.
Texto publicado originalmente na edição do dia 31 de maio de 2018 do Jornal O Dia.
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As redes sociais, a faculdade de pensar e a propagação do bem pelo bem mesmo

Muitas são as críticas feitas às redes sociais, em especial à sua à má utilização. Digo assim porque é uma realidade palpável que as redes sociais têm sido um veículo de propagação de notícias falaciosas e de pensamentos os mais esdrúxulos, sem falar na exaltação de deficiências como se fossem verdadeiras virtudes, tais como a vaidade, a cobiça, o egoísmo e a falsa humildade, dentre tantas outras, e isto não pode ser confundido com liberdade de expressão, até porque não foram poucas as pessoas já vitimadas pelas redes sociais, inclusive penalizadas com a perda da própria vida, fruto de acusações injustas, inverídicas e fantasiosas, para dizer o mínimo.
Todavia, devo ressaltar que o problema não está nas redes sociais, mas sim no uso que as pessoas fazem delas. Efetivamente, enquanto tecnologia a serviço das pessoas, as redes sociais têm hoje (ou deveriam ter) um importante papel a cumprir, afinal são um veículo de comunicação global extremamente rápido e eficaz.
Mas o que leva uma pessoa a difundir falsas ideias, preconceitos e vilipêndios? Penso que o primeiro aspecto é a ignorância, a falta de conhecimento do mal que pode causar ao semelhante e a si próprio; o segundo é a negligência por não verificar a veracidade das informações que estão sendo divulgadas; e o terceiro aspecto é própria irresponsabilidade de quem abandonou a dádiva da faculdade de pensar, recebida do Criador inclusive como importante fator de distinção do homem em relação às demais espécies existentes.
Considero o terceiro aspecto apontado como o mais grave, pois a faculdade de pensar é a principal das demais faculdades da inteligência, sendo através dela que o homem cria os próprios pensamentos e exerce juízo de valor sobre as coisas e os fatos. Abandonar essa faculdade é o mesmo que negar a própria condição de ser humano.
O homem que não pensa encomenda as rédeas da condução de sua vida a terceiros, sendo isto o que ocorre com aqueles que simplesmente repassam notícias veiculadas pelas redes sociais, sem fazer qualquer análise sobre a verossimilhança delas, muitas vezes sem sequer compreenderem o que efetivamente estão repassando.
É uma pena que cada vez com maior frequência mensagens inescrupulosas sejam divulgadas, sendo que hoje esses tipos de mensagens já superam àquelas que efetivamente dizem algo verdadeiro. É ainda triste ver um instrumento tão importante e necessário, em especial nesses tempos modernos, ser utilizado de forma tão incongruente com a natureza humana, desvirtuando a sua própria utilidade e colocando em risco a própria solidariedade entre os homens.
As redes sociais deveriam ser utilizadas como meio de difusão do conhecimento, como instrumento de intercâmbio de opiniões e de ideias, sempre com o objetivo de se construir algo de bem e de valor para a vida em sociedade. Isso mesmo, para construir, jamais para destruir, como se tem visto às escâncaras.
A utilização positiva das redes sociais deveria ser um dever de cada um e de todos, mas isto só ocorrerá se cada um, individualmente, se utilizar das próprias prerrogativas humanas e começar a exercitar a função de pensar, estabelecendo filtros, eliminando os abusos, e propagando o bem pelo bem mesmo.
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O papel do escravo político em uma ópera bufa à brasileira

As eleições para o Governo do Estado se avizinham e até o presente momento, menos de quatro meses para o pleito, não se viu nenhum debate de ideias e sugestões no tangente aos gravíssimos problemas sociais existentes, como os atinentes à segurança, saúde e educação. Isto é típico de um Estado que ainda não se modernizou. Um Estado de terceiro mundo que, em verdade, se encontra à beira do caos, invadido pela falência moral e onde os interesses particulares-individuais são mais importantes que os da coletividade. É o individualismo de aldeia que tenho já retratado há algum tempo.
É triste ter que presenciar, à margem das discussões sobre possíveis soluções para extração do Estado da miséria, negociatas e trocas espúrias de apoio político, de cargos e de votos sendo de realizadas de forma “normal”, numa expressa declaração de que o povo ainda vota no cabresto, como verdadeiro escravo político.
Em definitivo, o atual modelo político não mais serve (se é que serviu algum dia) como extrato fiel de uma Democracia, onde todo o poder deveria emanar do povo, já que previsto em caracteres indeléveis na Constituição Federal. A reforma política que nunca existiu precisa ser concretizada efetivamente, pensando-se não nos interesses dos reformistas, mas nos da sociedade.
Como escolher representantes sem que haja sequer um debate prévio e concreto, onde as ideias e propostas sejam analisadas em sua plenitude, não só como retórica ultrapassada? Impossível se escolher representantes sem vislumbrar no mínimo uma plausibilidade em suas proposições.
Mas nada disso será feito, infelizmente! Após se agasalharem todos os políticos em seus pessoais interesses, as mesmas falaciosas propostas genéricas serão ouvidas, numa completa encenação hollywoodiana, para se fingir a existência de uma Democracia plena em um Estado digno de pena!
Mas aos escravos não se dá educação, afinal não precisam pensar, tampouco falar, pois não serão ouvidos. Os escravos políticos se calam, cumprem um papel de aparente protagonismo, mas não passam de coadjuvantes, servindo muitas vezes apenas para compor o cenário onde brilham os verdadeiros atores, que ao mesmo tempo são os diretores desse musical que, não fosse trágico, seria uma verdadeira ópera bufa à brasileira.

 

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As vaidades, o poder, a falácia e o (verdadeiro) lugar a Democracia

Um dia para entrar para a história do país. A corte máxima da justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal – STF, deverá ter decidido sobre uma questão crucial: a prisão de réus condenados em segunda instância fere ou não o estabelecido pela Constituição Federal de 1988, que prevê expressamente que ninguém será considerado culpado senão após o trânsito em julgado da decisão. Ocorre o trânsito em julgado de uma decisão quando dela não cabe mais recurso algum, ou seja, quando não houver mais como se apresentar qualquer recurso que seja. A decisão final da justiça está dada, pois! É o que diz a Constituição, mas Direito é interpretação, é hermenêutica para utilizar uma palavra de maior expressividade.

Assim, o STF, há algum tempo atrás interpretou, com base em princípios de hermenêutica e ainda no direito alienígena, que a presunção de inocência, erigido a princípio constitucional fundamental, se finda com a decisão em segunda instância, relativizando o trânsito em julgado. Desse modo, o trânsito em julgado deve ocorrer quando findam as instâncias que discutem os fatos e não quando findam as questões meramente processuais ou procedimentais, já que apenas estas questões é que poderão(riam) ser levadas às instâncias superiores. Pura falácia, já que as instâncias superiores apreciam fatos todos os dias (quando querem, é claro).

Nesse sentir, o Supremo trouxe para si a responsabilidade por determinar que qualquer que seja o condenado criminal em 2ª instância, deverá este iniciar o cumprimento de sua pena, mesmo ainda na pendência de recursos às instâncias superiores.

Não atinou, todavia, o STF, que em tão pouco tempo teria que (re)examinar esta questão, e isto após muitos condenados já estarem cumprindo pena de reclusão por conta daquele hermenêutico posicionamento. E o que é pior, o Supremo é chamado a decidir novamente com um réu que é nada mais, nada menos, que um ex-Presidente da República, alguém que foi, e talvez ainda seja, a maior liderança popular que este país já viu! O Supremo chamou para si um protagonismo que não deveria existir, enquanto partícipe de um modelo de democracia que preconiza a independência harmônica entre os Poderes.

Mas, o mais grave: O Supremo dividiu o país e as consequências da (nova) decisão ninguém poderá prever, mesmo sabendo que o Brasil é um país de um povo pouco ativo, pouco crítico, e muito mais voltado à acomodação e subserviência. Porém, se se pesquisar a história, facilmente se observará que os seus grandes momentos, sejam trágicos ou não, ocorreram em decorrência de um motivo pontual, isolado, como um pavio de uma vela que se acende pelo crepitar de uma distante fogueira.

O Supremo trouxe ainda para si os males do Legislativo: uma divisão política e ideológica que se escancara a cada nova sessão plenária. Os elementos da idiossincrasia jurídica, da fundamentação constitucional, da razoabilidade e do bom senso, são todos relegados a segundo plano e se submetem ao poder, às vaidades e a outras coisas mais…

Não irei adentar ao mérito, mesmo que este seja o desejo dos que me leem, perdoem-me! Já expressei minha opinião em outros artigos e não é aqui o momento de explorar nenhum pensamento de discórdia. Ao contrário, é preciso que frente à grave situação política, social e econômica pela qual passa o país, todos os brasileiros se unam, que coloquem acima de suas vontades o interesse coletivo, que reflitam sobre o que é mais importante para a sociedade, para a vida.

A Democracia, enquanto modelo ideal, pelo menos até aqui conhecido, deve prevalecer sempre, mas não se pode deturpa-la, não se pode abandoná-la, deixa-la relegada a uma situação de inferioridade, como se não importasse, como se fosse uma mera falácia. Ah! Falácia.

Não sei qual será a decisão do Supremo, até porque escrevo antes dela ocorrer, e assim o faço porque quero trazer uma reflexão apartidária, longe das ideologias e dos interesses pessoais e individuais, mas sei que, independente do resultado, o Poder Judiciário sairá perdendo. A Democracia sairá perdendo, assim como a sociedade, não importa o resultado.

Que sirva de exemplo! E a história serve para isso também. Para que as gerações vindouras aprendam com os erros e com os acertos daquilo que foi feito e vivido pelas passadas. O Supremo erra feio agora, qualquer que seja a decisão que tenha tomado sobre o caso em espeque. É como se tivesse se juntado aos comuns, como se o Direito fosse algo simples e retórico, como se o Direito fizesse parte de uma política que no Brasil se tornou espúria e odienta. Em verdade, a Suprema Corte brasileira perde a oportunidade de ser protagonista, sem necessidade de ter que sê-lo. E isto é algo para os grandes! Que pena que o Poder Judiciário tenha se apequenado tanto nesse episódio.

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A tragédia de Desdêmona e Capitu ou o perigo do fim da presunção de inocência

Em sua coluna “Embargos Culturais” no Conjur, de 25 de março de 2018, o professor Doutor Arnaldo Godoy, uma das maiores culturas literárias desse país, escreveu instigante texto com o tema: “O drama de Capitu, a suprema injustiça e a tragédia das condenações sem prova”. Em sua exposição, que trata da obra machadiana “Dom Casmurro”, aborda sobre o problema da discriminação histórica da mulher.
A condenação de Capitu seria um absurdo jurídico, segundo o texto, considerando que “…a acusada não se defendeu. Essa nulidade é insanável. O ofendido é, ao mesmo tempo, juiz, promotor, narrador, relator e revisor. Um julgamento sério de Capitu não passaria pelo labirinto da jurisprudência construída em torno do artigo 155 e seguintes do Código de Processo Penal atualmente vigente.”
Ao ler o artigo, imediatamente lembrei-me de Desdêmona, personagem Shakespeariano, da obra clássica Otelo, O Mouro de Veneza, escrita por volta do ano 1603. Em Otelo, tal qual Dom Casmurro, a história gira em torno de temas relevantes e discutidos até os dias atuais, como racismo, amor, ciúme e traição.
Em que pese tratar-se de situações e realidades distintas, Capitu e Desdêmona foram mulheres vítimas, havendo muitas semelhanças em suas condenações. Otelo creu na infidelidade de sua esposa Desdêmona e a assassinou a sangue frio. Ele também, Otelo, a julgou, a condenou e executou a pena. Tudo sem qualquer oportunidade de defesa, baseando-se apenas em uma armação engendrada por Iago.
Godoy conclui que “ao condenarmos Capitu, caímos na armadilha que Machado de Assis nos armou. Nos esquecemos que Capitu não se defendeu e que não teve defensores. É na sua naturalidade, que no fundo é uma inocência humana que todos deveríamos ter, até prova definitiva em contrário, que se extrai a força e o argumento de sua redenção. Não se pode condenar com base em um olhar. Ainda que esse olhar seja o mais enigmático e desafiador de toda nossa literatura.
Um final eloquente e que remete o leitor a profundas reflexões, especialmente na época difícil que se vive no Brasil, em que a Democracia encontra-se em crise, abalada pela desarmonia entre os Poderes da República e pelos embates intrapoder. Veja-se a discussão durante a sessão plenária do STF (21.03.18) entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
O grave é que a fragilidade democrática termina por malgastar as garantias democráticas, como a presunção de inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988, e que impede condenações antecipadas e precipitadas, e que os julgamentos serão realizados de forma justa e com respeito à dignidade da pessoa humana.
Ocorre também que a mitigação da força desse princípio, quando mitigada por uma abalada Democracia, ganha um status que vai ao perigoso senso comum, fazendo com que a sociedade, de forma irrefletida, passe a julgar e a condenar as pessoas, em prejulgamentos os mais absurdos, como se passou a ver nas redes sociais. As chamadas Fake News já superam a quantidade de notícias verdadeiras que são divulgadas e a todo o momento pessoas estão sendo massacradas e vilipendiadas injustamente.
Assim, as Capitus e Desdêmonas se multiplicam, trazendo as obras em referência para uma realidade que talvez supere a própria crueldade que elas estampam.Se isto não for eloquente o suficiente, como demonstrou o prof. Arnaldo Godoy em seu belo artigo, para alertar sobre o perigo de condenações precipitadas, sem defesa, tal como vem ocorrendo no dia-a-dia das redes sociais, nada mais pode ser. Talvez só quando incrédulos e descrentes forem vitimados pelo próprio veneno.
*Texto publicado originalmente na edição de 29 de março de 2018 do Jornal O Dia.
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As incongruências de uma nação esfacelada: o país do carnaval e do futebol!

Normalmente costumo dar título aos artigos após escrevê-los, o que é natural, considerando que os pensamentos vão se desenvolvendo e se delineando ao longo do texto, muitas vezes tomando caminhos outros que os pensado inicialmente. Neste, todavia, já saí logo com “as incongruências de uma nação esfacelada…” encabeçando. Reputei fácil escrever sobre esse tema que me surgiu após algumas leituras prévias de textos do ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, publicados na revista Carta Mensal da Confederação Nacional do Comércio – CNC. As incongruências no Brasil, porém, para um observador mais atento, estão expostas às escâncaras e algumas são históricas, se repetem, e não se vê luz que aponte para o fim das mesmas.
Por exemplo: riqueza x pobreza. Ora, na maior parte do mundo sempre houve e continuará a existir essa dicotômica relação e isto não se caracteriza como uma incongruência per si, pois diversos fatores têm influência nessa diferenciação social e econômica. Este não é o ponto que quero abordar.  A questão fulcral, assim, não é a dualidade (ricos e pobres), mas o distanciamento, o afastamento, o abismo cada vez maior que os separa e que avança sem freios nem paliativos.
A incongruência aqui apontada, desse modo, não está no fato de existirem ricos e pobres, mas sim no fato de se permitir que isto se acentue cada vez mais, ao invés de se buscar diminuir a distância que os separa, especialmente quando estamos em um país onde ainda é possível se encontrar milhões e milhões de reais em cédulas dentro de malas em uma sala de apartamento, oriundos de propinas e corrupção. De um país que possui terras férteis e água abundante como nenhum outro, em um país que se arrecada em poucas semanas (em apostas da loteria) mais do equivalente a um milhão de reais por brasileiro (pode incluir os brasileiros que estão nascendo enquanto alguém lê este artigo).
A incongruência se exacerba quando milhares de pessoas vivem nas ruas, sem moradia digna e outros tantos morrem à míngua nos hospitais públicos. Quando o índice de analfabetismo é gritante a educação é um faz de conta para inglês ver ou mesmo quando a violência passa a dominar o Estado a ponto deste não saber como combatê-la, com pessoas morrendo diariamente vítimas de latrocínios e homicídios.
Já que toquei no tema da educação, facilmente posso citar outra incongruência, desta feita colhida dos dados do ex-ministro da Fazenda acima referido, onde informa que no Ministério da Educação o número de funcionários aumentou de 188,4 mil em 2008 para 288,3 mil em 2016, tendo os gastos orçamentários, em termos reais, uma expansão de 95% em oito anos. A incongruência que me refiro não está no aumento de pessoal ou de gastos, mas no fato de que Brasil há aproximadamente dois milhões de jovens que nem trabalham nem estudam e mais de um milhão de menores de 17 anos que não estão na escola.
A incongruência está ainda no fato de que, segundo levantamento da OCDE (Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico), 43,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 16 anos que estão na escola declararam exercer algum tipo de trabalho remunerado em suas rotinas. Na Coréia do Sul, esse índice é de apenas 5,9%!
Se ainda não bastasse, os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), mostram uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática, sendo que o Brasil caiu no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. E o que dizer se o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo?
Infelizmente, muitas são as incongruências que poderia citar e como disse no início seria fácil, o que comprova o esfacelamento da nação. O mais importante, porém, é observar que em um país com tantas incongruências, em um ano que o povo irá mais uma vez às urnas, os debates continuem a se dar longe do que efetivamente importa. Promessas gerais, abstratas e falaciosas devem ser a tônica das campanhas eleitorais, enquanto o país continuar a replicar suas incongruências (já crônicas), longe de se realizar um debate profundo sobre os problemas, suas causas e eventuais soluções.   Mas e daí? Afinal, o Brasil é ou não é o país do carnaval e do futebol? E ainda é janeiro e a copa do mundo da FIFA em junho. É, tive que acrescentar algo mais ao título, como se viu!
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