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A linguagem do desrespeito é o que coloca em risco a Democracia, não a liberdade de opinião e de escolha!

A Democracia, pelo menos até o presente momento, é o “modelo” de vida em sociedade mais defendido pelos jusfilósofos, como sendo o mais adequado para se criar uma harmonia social e para evitar-se que haja desmandos por parte dos detentores do Poder Político e Econômico. Todavia, o sistema democrático dos “freios e contrapesos”, a independência e harmonia entre os Poderes Legalmente constituídos, como preconizado por Montesquieu, tem sido mais do que nunca alvo de críticas, especialmente em países como o Brasil, onde a corrupção ganhou um corpo jamais imaginado e que se abrigou em várias esferas, especialmente na política e no setor privado dos grandes grupos empresariais e na maior empresa estatal brasileira, a Petrobrás.

Seria, então, a Democracia o melhor dos mundos para a construção da vida em sociedade? Esta é a pergunta que exsurge e que permite no atual cenário mundial a abertura de espaços para o avanço de pensamentos contrários ao ideal democrático de que “todo o Poder emana do povo”, inclusive pensamentos extremistas, o que é mais grave!

Já não seria esta a razão para a vitória de candidatos como Donald Trump (EUA), Emmanuel Macron (França) e de uma possível vitória de Jair Bolsonaro no Brasil (considerando aqui as últimas pesquisas do IBOPE)? Destaque-se que não se quer discutir sobre se esses governos referidos são (serão) bons ou ruins. Não se pode, nem se quer aqui, fazer exercício de futurologia. Todavia, estes políticos, ninguém pode negar, trazem em seus discursos posições mais de Direita, o que é plenamente válido, ressalte-se, e que passaram a contar com o apoio da maioria da população, o que é perfeitamente legítimo, também! Essa é a análise: tentar dissecar o porquê desse apoio da população aos discursos desses políticos e qual a relação que há com o Estado Democrático.

No caso do Brasil, para se fazer uma delimitação de conteúdo, duas razões parecem óbvias. A primeira é que o discurso da Esquerda perdurou por cerca de quinze anos, enquanto esteve no Poder, e o país encontra-se em um total caos social, onde a violência impera, a educação é de baixa qualidade e a saúde calamitosa, para citar apenas estes aspectos e para não falar dos “mensalões” e das “lava-jatos”. A segunda, é que o discurso de Centro tem se assemelhado ao do “melhor interesse individual”, ao dos “sem opinião”, tendo caído no descrédito da população, isso também sem falar no envolvimento de “centristas” com a corrupção.

Nesse sentido, o apoio da população aos discursos mais de Direita parecem “necessários”. É como o último suspiro do moribundo que não tem mais para onde apelar e que enxerga na promessa de recuperação uma tábua de salvação, mesmo feita por alguém cujo saber científico é uma incógnita e mesmo sem saber se a tábua é de ferro ou de bambu.

Mas isso é Democracia! Não é só o voto, mas principalmente o direito de opinar, de mudar e de decidir os rumos que quer dar ao país. É o direito de permanecer na embarcação prestes a afundar, mas acreditando que irá resistir, ou de pular em direção à tábua que aparece no horizonte, sem saber se é ou não uma miragem! Democracia é o direito de ter liberdade de fazer escolhas, certas ou erradas. Apenas na Democracia há essa liberdade e não se pode abrir mão dela!

O grande problema, nesse momento, é que o próprio povo, esquecendo-se do direito à liberdade que a Democracia proporciona, começa a desrespeitar a opinião do outro e, à base da força, quer impor a própria! Este é o risco da polaridade ideológica irracional, onde as ideias se retraem face à intolerância mútua. O ilogicismo do discurso se torna secundário frente à necessidade da imposição do pensamento a qualquer custo. A linguagem do desrespeito toma o lugar do debate propositivo. É isto o que coloca em risco a Democracia, não a liberdade de opinião e de escolha!

Essa irracionalidade discursiva que se tem visto ultimamente no Brasil, especialmente pelas redes sociais, é a ferida aberta no seio da Democracia. É o câncer que a coloca em perigo e que não se tem conseguido identificar, mas que nem por isso deixa de existir e de carcomer o que se tem de mais precioso em qualquer Estado Democrático, a sua base de sustentação. Mas a liberdade só pode existir se houver respeito e tolerância, de uns para com os outros e do Estado para com o seu povo. A liberdade sempre é uma via de mão dupla, jamais um estrada só de ida.

O brasileiro que irá às urnas para a escolha do futuro presidente precisa compreender o risco que a Democracia corre ao não se respeitar a opinião do outro, ao levar o debate para o campo da intolerância. A atitude de respeito às opiniões e às escolhas, além de representar o mais básico de uma educação, demonstraria a maturidade democrática do brasileiro e, tal qual a luz do sol que emerge incólume todos os dias, jogaria uma pá de cal sobre a escuridão que um modelo de Estado não democrático poderia representar.

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Retrospectiva 2017 (ou como o futuro não pode ser simplesmente um novo passado)

Mais um ano se finda. Fazer uma retrospectiva do que passou é sempre o comum e natural nessa ocasião, todavia a história tem comprovado que esse exercício reflexivo, cujo objetivo é buscar os erros e acertos, para se evitar a repetição dos primeiros e dar continuidade ao que ocorreu de bom, não tem sido exitoso. Ao contrário, inclusive já virou jargão, a história se repete e se repete naquilo que tem de pior. Ou seja, os erros continuam a ser praticados!
Nesse ponto, dessa forma, penso que duas análises podem ser feitas: ou a análise retrospectiva é mal feita, passando-se à margem daquilo que efetivamente importa e é mérito, sendo condição sine qua non para que o passado sirva de fato como exemplo; ou ao invés de se ir atrás (saudosamente) do que passou, a reflexão deveria se inserir em um contexto de futuro. Ressalto que as afirmações acima não são excludentes.
Na obra Mundo em Descontrole: o que a globalização está fazendo de nós (Giddens, 2011) o autor ressalta que “Karl Marx, cujas ideias muito deveram ao pensamento iluminista, expressou essa concepção (de que quanto mais formos capazes de compreender racionalmente o mundo, e a nós mesmos, mais poderemos moldar a história para nossos próprios propósitos. Temos de nos libertar dos hábitos e preconceitos do passado a fim de controlar o futuro) em termos muito simples. Temos de compreender a história, afirmou ele, a fim de fazer história.”
Desse modo, toda retrospectiva deve ser feita sem preconceitos, partidarismos ou ideologias, sob pena da análise se tornar inservível como exemplo apto a moldar um novo porvir.
Jürgen Habermas (2000), na obra “Más allá del Estado nacional”, ao tratar da importância de se aprender através da história salienta que “o acontecer/evento histórico adquire um núcleo de validade que precede qualquer reflexão (…), mas a “história” continua a ser uma fonte de algo que vale a pena conhecer porque pode continuar a tomar, ao que parece, critérios e valores (…)” e “no entanto, a justificativa hermenêutica da história como uma mestra da vida tem para filósofos e escritores e, em geral, para intelectuais e cientistas de espírito, algo que é, à primeira vista, convincente”.
É por demais importante, pois, que a retrospectiva de 2017 seja feita com muito zelo, considerando ter sido um ano marcado por diversos acontecimentos políticos e sociais. Este ano de 2017 reveste-se ainda de um caráter de transição, já que se tratou de várias reformas, mesmo que apenas a trabalhista tenha sido efetivamente concretizada. É que a reforma política não teve o condão de alterar nada substancial e a reforma da previdência restou adiada.
A retrospectiva de 2017 deve ser concretizada com um olhar muito especial, sobretudo porque antecede a um ano eleitoral em que a população mais uma vez irá às urnas escolher seus representantes, aqueles que terão a possibilidade de fazer com que o futuro não seja simplesmente um novo passado.
*Texto publicado originalmente na edição do dia 28 de dezembro de 2017 do Jornal O Dia.
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