Os golpes virtuais atingem indiscriminadamente todas as faixas etárias e perfis socioeconômicos, mas têm alvo preferencial: os jovens. Dados recentes do DataSenado, com base em entrevistas com quase 22 mil pessoas, apontam que 27% das vítimas no país têm entre 16 e 29 anos — faixa etária que lidera o ranking. O dado surpreende e desconstrói o senso comum de que os idosos seriam os mais expostos a esses crimes. “A faixa com mais de 60 anos, considerada vulnerável por ter migrado para uma realidade totalmente nova, digital, já na idade adulta, representa 16% delas”, aponta a pesquisa.
Maior tempo de exposição à internet, pouca familiaridade com técnicas de verificação digital e, em muitos casos, baixa escolaridade, são fatores que explicam essa prevalência entre os mais jovens. Golpes como falsas ofertas de emprego, promessas de ganhos rápidos e links maliciosos disseminados por redes sociais e aplicativos de mensagens fazem parte do cotidiano digital dessa geração hiperconectada.
A matéria traz ainda dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que revelam uma queda de quase 30% nos roubos físicos a bancos e instituições financeiras entre 2022 e 2023, ao mesmo tempo em que os crimes digitais — como estelionatos eletrônicos e fraudes cibernéticas — aumentaram 13,6% no mesmo período. Essa inversão de cenário indica uma clara migração da atividade criminosa do espaço físico para o digital.
Vários fatores contribuem para essa transição como o avanço da digitalização de serviços financeiros, fazendo com que os criminosos voltem sua atenção para o ambiente onde hoje se movimenta a maior parte do dinheiro: o online. O segundo fator é a sensação de impunidade no ambiente virtual, considerado maior. A complexidade da investigação de crimes digitais, aliada à escassez de profissionais especializados em cibersegurança (estima-se um déficit global de 4,8 milhões de especialistas, segundo o Fórum Econômico Mundial) favorece a atuação de quadrilhas organizadas que utilizam artifícios tecnológicos sofisticados para enganar as vítimas e dificultar o rastreamento.
Considere-se ainda um custo-benefício favorável ao criminoso. Um golpe bancário físico exige logística, risco de confronto, exposição direta. Já um ataque digital pode ser disparado com poucos cliques, atingir milhares de pessoas simultaneamente e ser executado do conforto de um ambiente remoto, até de outro país. Além disso, o próprio comportamento das vítimas mudou. A pressa, o consumo de informação em excesso, o multitarefismo e o uso constante de dispositivos móveis tornam as pessoas mais suscetíveis a erros de julgamento. Como alerta o cientista da computação Rodrigo Fragola, realizar múltiplas atividades simultaneamente — como pagar contas, responder mensagens e acessar links — abre brechas para ações fraudulentas.
O Congresso Nacional tem se mobilizado com a criação de frentes parlamentares e a discussão de projetos de lei para aprimorar a legislação e fortalecer o combate aos crimes cibernéticos. Mas, não basta legislar. A era digital exige uma nova cultura de proteção, que começa com informação e se fortalece com legislação, educação e tecnologia. E se a vida está online, há claramente uma necessidade contínua de investimento em cibersegurança, tanto em termos de políticas públicas quanto de desenvolvimento tecnológico e capacitação profissional. Proteger-se contra fraudes não é só uma questão de bom senso, mas uma necessidade que envolve todos os atores sociais.
Fonte: Data Senado/Agência Senado